Em audiência pública convocada para esclarecer as falhas na correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que, apesar dos problemas, esse "foi o melhor Enem de todos os tempos". Em exposição antes de uma sabatina no Senado Federal, Weintraub dedicou a maior parte do tempo a exaltar sua atuação e apresentar feitos do Ministério da Educação (MEC) sob sua gestão, pouco explicando os erros.
— Não tô falando que não teve erro nenhum, que não teve nada, que foi perfeito. Mas me tragam um Enem que foi melhor do que este. Não teve. Só vai ter um Enem melhor do que o de 2019, que vai ser o deste ano. E o outro ano vai ser melhor — garantiu Weintraub.
Em seguida, os senadores presentes na Comissão de Educação puseram-se a questionar Weintraub. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) perguntou sobre o episódio em que Weintraub usou sua conta pessoal no Twitter para solicitar que o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), presente na sabatina, analisasse a prova da filha de um apoiador – ação que, de acordo com os parlamentares, enquadra-se como quebra de decoro e falta de impessoalidade.
— Quanto a esse pai, eu não conheço ele, nunca tinha visto. Por que eu fiz isso? Da mesma forma como eu peguei o erro das questões lá atrás (a partir de relatos no Twitter), como eu interajo diretamente com as pessoas. Ele em nada foi beneficiado a mais do que outros — afirmou o ministro.
Confira na íntegra a audiência no Senado
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) afirmou que o ministro da Educação violou os princípios constitucionais da legalidade, da moralidade e da eficiência. O senador leu em voz alta respostas de Weintraub a pessoas que o criticaram no Twitter, em que ele proferiu ofensas.
— Meu Deus, esse é o ministro da Educação da Presidência da República Federativa do Brasil. É uma gestão que eu qualifico como desastrosa — disse Contarato, um dos autores do pedido de impeachment contra Weintraub.
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteado relator do pedido de impeachment, protocolado em 5 de fevereiro por um grupo de deputados e senadores. Entre os argumentos para embasar o pedido está o de que o MEC perdeu R$ 1 bilhão em recursos vindos da Lava-Jato e que deveriam ter sido usados na educação. De acordo com os parlamentares, o ministério perdeu o prazo para empenhar os recursos e, por isso, o dinheiro foi perdido.
Não tô falando que não teve erro nenhum, que não teve nada, que foi perfeito. Mas me tragam um Enem que foi melhor de que este. Não teve
ABRAHAM WEINTRAUB
Ministro da Educação
Em 30 de janeiro, críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao ministro Abraham Weintraub expuseram o agravamento das relações entre o MEC e a Câmara. Maia disse que Weintraub é um desastre e que "atrapalha o Brasil, atrapalha o futuro das nossas crianças, está comprometendo o futuro de muitas gerações". Ele afirmou, ainda, que "o grupo que o ministro representa é a bandeira do ódio". O secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Arnaldo Lima Junior, pediu demissão naquele mesmo dia, alegando motivos pessoais.
Como resposta, o presidente Jair Bolsonaro e um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, saíram em defesa de Weintraub em suas redes sociais no dia seguinte (31). Enquanto o presidente postou uma foto na qual aparece junto ao ministro, seu filho fez tuítes com menções a conquistas do MEC sob o comando de Weintraub.
Silêncio sobre as falhas
O ministro, que tomou posse em abril, compareceu pela nona vez ao Senado para prestar esclarecimentos. Quanto às falhas no Enem, ele explicou que se manteve em silêncio porque a Justiça estava julgando o processo.
— Por que eu me calei nesse período todo: em respeito à Justiça, que estava julgando se havia qualquer coisa errada que pudesse prejudicar qualquer pessoa que participou do processo seletivo. Em respeito à Justiça, eu fiquei quieto. Agora que estou sendo chamado por outro poder, venho institucionalmente me defender da chuva de fake news que se abateu sobre o MEC — afirmou ele.
Para Weintraub, comparativamente, esse foi o Enem com o menor número de problemas e menos impacto. O governo federal atribuiu à gráfica Valid a falha que levou 5.974 participantes a terem alteradas suas notas na correção da edição de 2019 do Enem. O número de participantes afetados representa 0,15% do total, que foi de 3,9 milhões na última edição. Um dia após a divulgação das notas do Enem e depois de candidatos usarem as redes sociais para dizer que estranhavam os resultados, o MEC admitiu ter divulgado parte das notas com erros.
— Abrimos um processo administrativo contra a gráfica, e a Justiça vai atrás dela. Quanto a outros erros... circulação de fotos (das provas) houve, mas não prejudicou ninguém. O Enem já estava rodando — garantiu o ministro.
Weintraub apontou que as pessoas que se sentiram lesadas "têm que ver se querem um processo por dano moral" contra a gráfica, e que "aí é questão para a Justiça avaliar", eximindo o MEC de responsabilidade. Segundo ele, ninguém deixou de entrar na faculdade por conta de algo que tenha acontecido no último Enem.