O governo federal atribuiu à gráfica Valid a falha que levou 5.974 participantes a terem alteradas suas notas na correção da edição de 2019 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O número de participantes afetados representa 0,15% do total, que foi de 3,9 milhões na última edição. Apesar de o número de falhas ser considerado estatisticamente irrelevante, o governo informou que vai abrir um processo administrativo contra a gráfica, que fica sujeita a penalidades definidas em contrato.
Os erros preocuparam milhares de estudantes desde a divulgação das notas do exame, na última sexta-feira (17). Foram afetados participantes em cerca de 200 cidades, inclusive no Rio Grande do Sul, mas 96,7% das ocorrências se concentraram nas cidades de Alagoinhas (BA), Viçosa (MG), Ituiutaba (MG) e Iturama (MG) – apenas os Estados de Amapá e Roraima não tiveram erros registrados. A apuração do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indica que houve problema na impressão de lotes da prova, realizada em 3 e 10 de novembro, o que justificaria a concentração de erros em algumas cidades.
O que ocasionou a falha na correção da prova foi um problema mecânico, conforme explicou o presidente do Inep, Alexandre Lopes, durante coletiva de imprensa convocada para esclarecer erros na correção do Enem.
O processo de impressão ocorre assim: duas máquinas diferentes imprimem o caderno de questões e o cartão-resposta. Uma terceira máquina une, posteriormente, os dois papéis, que são identificados com código de barras e o código do participante. Mas um problema no equipamento teria desvinculado a prova e o cartão. Na prática, candidatos que fizeram a prova de uma cor tiveram o gabarito corrigido como se fosse de outra.
Já temos diversos testes de consistência que fazemos ao longo do processo de correção. Isso faz com que a gente revise o processo e (possa) evitar que isso aconteça no futuro.
ALEXANDRE LOPES
Presidente do Inep
Com isso, foi registrada a falha no processo de impressão das provas e dos cartões-resposta. As provas são impressas em quatro versões, identificadas pelas cores amarela, azul, branca e rosa. As questões são as mesmas, apenas a ordem de apresentação delas é invertida para dificultar que um candidato copie as respostas de outro.
Agora, o presidente do Inep afirmou que o órgão estuda a implementação de testes de consistência para incorporar à correção da prova nos próximos anos.
— Em relação ao futuro, já temos diversos testes de consistência que fazemos ao longo do processo de correção. Isso faz com que a gente revise o processo e (possa) evitar que isso aconteça no futuro — disse Lopes, sem detalhar quais serão os procedimentos adotados.
A gráfica Valid Soluções S.A informou que não vai comentar o assunto.
Novas licitações
Questionado, diante da falha e da perspectiva de um processo administrativo, além de outras possíveis penalidades, sobre a possibilidade de exclusão da Valid do próximo pregão para a realização do Enem, Lopes afirmou que o Inep "seguirá a lei".
— Vamos seguir as regras da administração pública, não existe voluntarismo. Será (definido) em função do processo administrativo que a sanção seja administrativa ou judicial. Vamos cumprir e seguir as regras de licitação: multa, advertência. Independente disso, já tínhamos abertos dois processos licitatórios para licitar nossos processos de gráfica — garantiu o presidente do Inep.
Ao todo, 5.944 inconsistências foram verificadas no segundo dias de provas, com apenas 30 sendo registradas no primeiro dia. Lopes assegura que nenhum candidato foi prejudicado e a falha não macula a aplicação da prova em 2019.
— Nós analisamos todos os alunos. A gente fez esses tipos de correlações para orientar a busca, para ver se a gente encontrava outras inconsistências. O erro estava na associação. Que tipo de erros que aconteceram na gráfica, que geraram essa diferença de associação, eu não sei dizer — afirmou Lopes.
O Inep recebeu 172 mil e-mails relatando erros, e todas as 3,9 milhões de provas da última edição do Enem foram conferidas pelo instituto. Cerca de 300 pessoas foram mobilizadas para identificar e corrigir os erros no Enem.
Devido ao erro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou que o prazo para inscrição no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi estendido em dois dias. Agora, os estudantes terão até domingo (26) – e não sexta-feira (24) – para se inscrever no sistema.
Como ocorreu o erro
Um problema mecânico ocasionou a falha na correção das provas de 5.974 participantes do Enem 2019.
- Duas máquinas diferentes imprimem o caderno de questões e o cartão-resposta.
- Depois, uma terceira máquina une os dois papéis.
- Esses papéis são identificados com código de barras e o código do participante.
- No entanto, um problema no equipamento teria desvinculado a prova e o cartão.
- Isso levou a contradições na associação entre o participante e a cor de sua prova, fazendo com que uma prova azul, por exemplo, estivesse vinculada a um cartão-resposta da prova rosa.
- Dessa forma, o gabarito usado para a correção não era da cor da prova feita pelo aluno, fato que provocou o erro.
- Na prática, na hora de fazer um pacote de prova, a máquina fazia o login, "engasgava" e lia errado.
- Com isso, todo o pacote associado saía com inconsistências.
- Esses erros afetaram a correção automática das provas do primeiro e do segundo dia de Enem. A prova de Redação não foi afetada.
- A falha foi percebida após alguns alunos relatarem nas redes sociais terem sido surpreendidos com notas baixas na segunda prova do exame.
- A equipe técnica do instituto identificou somente após esses relatos a inconsistência na transmissão de dados que a gráfica envia ao Inep para processamento das notas.
- O Inep afirma estar estudando a implementação de "testes de consistência" para incorporar ao processo de correção da prova nos próximos anos.