Com fala eloquente e eufórica, cinco estudantes secundaristas do Colégio Leonardo Da Vinci, de Porto Alegre, realizam a contagem regressiva para 28 de janeiro. O motivo para tamanha agitação é a viagem que eles farão para Boston, nos Estados Unidos, para participar de um evento internacional que simula as reuniões dos comitês especiais da Organização das Nações Unidas (ONU), a ser realizado na Universidade de Harvard, entre 30 de janeiro e 2 de fevereiro.
O Harvard Model United Nations (HMun) reunirá mais de 4 mil alunos de Ensino Médio de diversos países. Os participantes ficarão divididos dentro das áreas de atuação da entidade, como saúde, trabalho, direitos humanos, entre outras, e serão desafiados a elaborar propostas inovadoras para crises políticas e conflitos globais, levando em consideração os interesses dos países que eles foram designados como representantes.
A delegação formada por Sofia Weber, 16 anos, Henrique de Oliveira, 16, Mel Dabah, 17, Arthur Estrela, 17, e Antônio Schenatto, 16, tem experiência: alguns estão imersos nos eventos diplomáticos desde 2017, outros, desde 2018. A bagagem fez com que os adolescentes contabilizassem 39 prêmios conquistados em simulações realizadas no Brasil. As distinções avaliam a capacidade de oratória, defesa e sustentação de propostas, entre outros itens. Apesar da trajetória consistente, o frio na barriga é um sentimento comum a todos.
— Eu nunca me imaginei indo para Harvard participar de uma simulação com pessoas de outros países. A minha ficha não caiu ainda. Às vezes, fico anestesiada com tudo que está acontecendo — relata Sofia, uma jovem com voz tímida.
A ideia de levar o grupo para fora do Brasil partiu de Henrique. Quando estava de férias, no meio do ano passado, o adolescente começou a pesquisar simulações diplomáticas que aconteciam ao redor do mundo e se deparou com o HMun. Em um primeiro momento, ele pensou em fazer a inscrição sozinho, mas, logo em seguida, mudou de ideia e chamou os amigos do Clube de Relações Internacionais (CRI), do Leonardo Da Vinci, para integrarem a delegação. A partir daí, foi uma verdadeira corrida contra o tempo, porque eles tinham o prazo de cinco dias para entregar os documentos necessários.
— Fizemos reuniões para melhorar as respostas que justificavam a nossa participação no evento. Escrevemos que tínhamos interesse em representar um país com o qual tínhamos mais identificação e laços históricos parecidos, por isso listamos 10 países divididos entre a África e a América Latina. Por fim, ficamos com Camarões. Quando saiu o resultado, foi um misto de sentimentos, alegria e incredulidade. Agora, estamos correndo para estudar a legislação do país e chegarmos preparados lá — diz Henrique.
Os estudantes não são os únicos brasileiros do Estado a marcarem presença no evento. Outros também irão e, assim como o quinteto, o terão de arcar com os custos de passagem e de estadia.
Assembleias em inglês
O grupo, que está acostumado ao modelo europeu de diplomacia (em que os representantes formulam uma proposta de resolução durantes as reuniões), terá de transitar para o americano – aquele em que o delegado já chega com a proposta redigida e não dá muita margem para negociação. Além disso, terá de enfrentar o desafio de falar e redigir os textos em outro idioma sobre assuntos como terrorismo na era digital, ajuda humanitária e mudanças climáticas.
Arthur relata que determinados comitês de simulações diplomáticas que acontecem no Rio Grande do Sul e no Brasil já são feitos em inglês, o que diminuiu o nível do nervosismo.
— Ainda bem que aqui em Porto Alegre já participamos de eventos nestes moldes, já sabemos como é. Para quem fala inglês, o que facilita é que ele não é tão rebuscado e complexo quanto o português. Tem a questão de pronúncia de algumas palavras, mas a estrutura do idioma é mais simples e o vocabulário também — observa o adolescente.
Durante os três dias de experiência internacional, eles ficarão hospedados em um hotel e poderão ser acionados a qualquer hora da madrugada para resolver alguma urgência global, bem aos moldes da vida real, quando alguma catástrofe acontece. E é justamente esta adrenalina que Mel deseja:
— É surpresa, a gente não sabe se vai ter ou não. Seria incrível se tivesse, porque entenderíamos como é de verdade, no calor do momento, tu defenderes os interesses do país que tu representas, fazer concessões, mas também não perder esse cabo de guerra nas relações exteriores.
Para Antônio, essa é uma das principais virtudes que o Clube de Relações Internacionais (CRI), do Leonardo Da Vinci, apresentou a ele.
— O CRI ensinou a ter ainda mais respeito à pluralidade de ideias e a argumentar de forma pacífica, que é algo que falta atualmente. Estou muito feliz por ter a oportunidade de potencializar isso, de aprender e também de ensinar lá — afirma ele.