Computadores novos, uma sala totalmente remodelada e duas grandes telas de 70 polegadas, além de várias outras pequenas – mas importantes – alterações esperam os alunos da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no próximo semestre. O laboratório de informática, utilizado por estudantes de graduação e pós-graduação em Medicina e Nutrição, foi reestruturado graças a uma parceria público-privada com a Unicred Porto Alegre, a primeira PPP efetivada nos 85 anos de história da instituição de Ensino Superior.
A ideia de reformar o laboratório surgiu no ano passado, e foi ganhando corpo ao longo dos últimos semestres. Com a carência de recursos que afeta as universidades federais, além do contingenciamento que, durante boa parte do ano, impediu planejamentos em infraestrutura, os professores propuseram a inicialmente complicada ideia de buscar apoio junto à iniciativa privada. O nome da Unicred, cooperativa de crédito voltada para a área da saúde, logo surgiu em meios às conversas, e as tratativas tiveram início.
A iniciativa exigiu muita preparação, inclusive jurídica: foi preciso aval da reitoria e pareceres favoráveis de diversos setores em toda a papelada – compromissos facilitados dada a boa vontade dos envolvidos em fazer a parceria dar certo.
— Tivemos de ter um embasamento jurídico muito forte, por ser a primeira PPP da universidade. Ao mesmo tempo, demandamos total liberdade, tanto técnica quanto política e acadêmica, junto à Unicred — explica a diretora da Famed, Lucia Maria Kliemann.
Lucia explica que, em contrapartida, a cooperativa instalou um banner no laboratório, um caixa eletrônico na entrada da faculdade e vai poder oferecer capacitações em educação financeira para os alunos, que terão liberdade para cursá-las ou não.
Para o reitor da UFRGS, Rui Vicente Oppermann, a parceria aponta para uma mudança de paradigma no relacionamento entre a universidade e as instituições públicas e privadas. Essa forma de receber recursos financeiros, equipamentos e materiais, aponta ele, marca essa nova fase.
— É dessa maneira que devemos interagir com a sociedade, pois essas iniciativas vêm justamente em complemento às obrigações constitucionais de financiamento que o governo tem com as instituições federais de Ensino Superior em relação ao ensino público, gratuito e de qualidade — declara Oppermann.
O coordenador do núcleo de infraestrutura e tecnologia de informação da Faculdade de Medicina da UFRGS, Carlos Rech, reforça essa impressão.
— Estamos quebrando um paradigma. E a primeira parceria é sempre a mais difícil. Virão mais por aí — revela Rech, cheio de planos de novos laboratórios, uso de realidade aumentada e alta definição em análises microscópicas.
Apesar de o início efetivo do uso das novas instalações ficar para o início de 2020, o laboratório, recriado ao longo do segundo semestre deste ano – com obras que levaram apenas dois meses – já está em pleno funcionamento. A estreia ocorreu há algumas semanas, em um curso ministrado por Rech a estudantes e funcionários do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). No início desta semana, um concurso de Direito também foi realizado por lá.
— Os alunos de graduação, de pós-graduação e os grupos de pesquisa vão tirar muito proveito dessa iniciativa. Abre-se um grande número de possibilidades para o ensino. E, agora que já sabemos o caminho das pedras, queremos que casos assim se repitam — revela a diretora da Famed.
Gestores de outros cursos já mostraram interesse em repetir o feito, buscando, na iniciativa privada, parcerias que possam colocar em prática o que as universidades públicas, diante dos combalidos orçamentos, têm tanta dificuldade em ver acontecer: pôr em prática investimentos estruturais e fazer planejamentos que envolvam consideráveis recursos financeiros.
O que muda com a PPP
O laboratório de informática da Faculdade de Medicina da UFRGS passa a ter:
- 27 computadores novos;
- mobiliário todo renovado;
- dois televisores de 70 polegadas para apresentação de aulas;
- nova impressora;
- a distribuição da sala também é mais ergonômica, com os computadores todos virados para um lado – antes, os alunos ficavam de frente para as janelas ou paredes.