Durante a ditadura miliar — nos anos de 1964 e de 1969 — 41 docentes foram expulsos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além deles, servidores, técnicos-administrativos e estudantes também foram demitidos, perseguidos ou deslocados de suas funções. Para marcar os 50 anos deste momento sombrio da história brasileira e homenagear os que sofreram as consequências da repressão, o Centro Cultural da UFRGS inaugurou, na tarde de quinta-feira (28), um memorial e também uma exposição com aquarelas, que retratam o contexto da época.
A mostra integra o "Projeto Memória — 50 anos dos expurgos da UFRGS", feito em parceria com professores de diversas áreas da universidade e composto por diversas frentes. Entre elas, estão a exibição de uma série de vídeos com depoimentos dos professores expurgados, rodas de conversa e a inauguração de um memorial esculpido pelo artista plástico Irineu Garcia, em granito rosa, que ficará exposto em frente à Faculdade de Educação da instituição. O projeto também contará com a publicação de um livro que abordará a história e analisará o significado das aquarelas e do memorial.
A exposição terá, ao todo, 18 telas, com até 1m70cm de altura, que agregam duas técnicas: a aquarela e o grafite. Com as obras, o espectador fará um passeio pelo contexto político e social do Brasil e do mundo da época. As imagens retratam a Guerra do Vietnã, a Primavera de Praga, o Maio de 1968, o Movimento da Legalidade e a repressão ao movimento estudantil no Brasil, entre outros.
José Carlos Lemos, professor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS e aquarelista responsável pelas pinturas, nasceu em março de 1964, mês em que o golpe militar foi instaurado.
— Eu vivi na ditadura militar na infância e na adolescência. Fui saber das perseguições e do horror da época muito tempo depois. O processo de pesquisa das imagens foi emocionante, e é importante que a gente faça este resgate, que a gente homenageie quem lutou para que a universidade pública se mantivesse de pé, dentro dos moldes republicanos — diz Lemos, que brinda também os jovens de agora em seu trabalho, ao retratar o movimento estudantil com a única tela multicolorida da exposição.
Uma das curadoras da mostra, Cristina Carvalho, afirma que a UFRGS e outras universidades federais sofreram com o obscurantismo por parte da sociedade. Reforça que é necessário que as pessoas conheçam esta parte da história, para que ela não se repita.
— Lembrar quem defendeu a universidade pública, gratuita e laica é dever, porque essas instituições são responsáveis pela esmagadora maioria de avanços tecnológicos nacionais. O conhecimento gerado no Brasil vem das (universidades) federais, mas elas só conseguem fazer isso porque são livres e têm espírito crítico — observa.
Projeto Memória - 50 anos dos expurgos da UFRGS
Onde: Centro Cultural da UFRGS - Rua Eng. Luiz Englert, 333, bairro Farroupilha
Período da exposição: de 28 de novembro a 31 de dezembro com entrada gratuita