Biologia e física estavam mais difíceis, matemática manteve o padrão de anos anteriores e química não exigiu tanto dos candidatos como no passado recente, segundo professores que analisaram as questões do segundo e último dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2019.
Habitual bicho-papão para grande parte dos estudantes, a prova de matemática esteve parecida com a dos anos anteriores, com distribuição similar de conteúdos.
— A prova finalmente adquiriu um padrão. Foi sem surpresas. Para quem fez o Enem pela primeira vez, pode parecer algo apavorante, mas para quem se preparou estava tranquilo. Os que estudaram pelas últimas versões certamente se deram bem — destaca Bruno Baltazar, professor do Núcleo Exatas.
Baltazar acrescenta que estava tranquilo de identificar quais eram as questões fáceis, médias e difíceis, o que colaborou para o aluno desenhar sua estratégia de prova. Predominou a interpretação, como é tradicional no Enem.
— Tinha cálculo para fazer, mas nada exorbitante — diz o professor.
As questões de biologia, segundo o professor Rubens Oda, da plataforma de ensino Descomplica, foram mais conteudistas do que em anos anteriores.
— Isso mostra que biologia não é só prova de interpretação. Tem de estudar no detalhe. Foi mais difícil do que nos últimos anos, com temas bem específicos, como desacoplamento, um processo de respiração celular que ocorre na mitocôndria, e exceções da segunda lei de Mendel. A maior parte da prova deu trabalho para o aluno.
Por outro lado, observa o professor, houve a tentativa de incluir temas do cotidiano — com destaque para uma questão sobre difusão, que citava a colocação de batatas em um feijão salgado demais, para retirar o sal em excesso. Oda afirma ainda que uma questão tinha o enunciado ambíguo — e que até professores da área, logo após a prova, se dividiam sobre qual era a alternativa correta.
— Era uma questão de botânica, em que o enunciado permitia dupla interpretação. Perguntava qual adaptação permitiu às plantas a conquista do ambiente terrestre, mas não deixava claro se falava em conquista da sobrevivência ou da reprodução, o que significa respostas diferentes. Acredito que a questão não seja anulada, mas mesmo o bom aluno teve dificuldade de responder.
Temas que não são rotineiros
Outra prova difícil, quando se leva em conta o retrospecto, foi a de física. Essa dificuldade, segundo o professor Leonardo Gomes, deveu-se aos conteúdos surpreendentes que foram cobrados — temas que não são rotineiros, como decomposição de forças, uso de arcos trigonométricos e fluxo de calor com necessidade de recorrer a equações.
— O cara que estudou em cima de provas anteriores foi surpreendido, com certeza. Conteúdos que costumam ser tranquilos vieram mais pesados, enquanto os temas que costumam ser fáceis vieram surpreendentes. Foi uma prova diferente, densa, mais técnica, com questão que envolviam contas.
Em oposição a isso, a prova de química chamou a atenção por quase não envolver cálculos. Foram apenas dois, bem menos do que em anos anteriores, e um deles era fácil, na avaliação do professor Allan Rodrigues. O outro cálculo, no entanto, era complexo e apareceu na questão mais difícil da prova.
— Era uma pergunta sobre titulação, que envolve prever a concentração de determinada substância em uma solução — diz Rodrigues.
De modo geral, no entanto, o professor considera que o nível de dificuldade, justamente por não haver exigência de tantos cálculos, foi menor do que em outros anos.
— Foi uma prova mais teórica, que dava para resolver de forma rápida.
Caíram vários assuntos usuais, como eletroquímica, termoquímica, polímeros, reações orgânicas e ambiente. Um tema que sempre bate ponto — estequiometria — não apareceu, o que foi uma surpresa. Por outro lado, um conteúdo que não é cobrado com frequência, modelos atômicos, surgiu. O cotidiano imiscuiu-se na prova por meio de uma questão sobre tratamento de esgoto, que cobrava conhecimentos de química ambiental.