Um protesto contra a paralisação das obras no Instituto de Educação General Flores da Cunha foi realizado neste domingo (20), em Porto Alegre. Os manifestantes se reuniram em frente à instituição, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, por volta das 11h, e foi encerrado cerca de duas horas depois. Alunos, ex-alunos, pais e professores estavam entre os participantes do movimento. A interrupção das obras foi confirmada pelo governo na semana passada. O Piratini alega falta de verba para tocar os trabalhos.
Os manifestantes fizeram uma espécie de abraço simbólico no imóvel. Pai de um aluno do nível 3 do instituto, o autônomo André Machado de Souza Magalhães, 40 anos, era um dos presentes no local. Magalhães diz que ainda tem esperança de ver o filho estudando dentro do prédio histórico.
— É um sonho não só meu, mas, sim, de várias gerações que vão vir, né? Não é uma coisa só de um pai, só de um aluno. Como meu filho está aqui, vários pais e alunos vão passar por aqui. Então, é uma instituição que não pode morrer.
Em frente ao prédio, no portão, os manifestantes colocaram uma faixa com a frase “a obra tem de continuar”. Pequenos pedaços de pano com as frases “SOS IE” e “ E aí, governador?” também foram fixados na estrutura.
Maria da Graça Ghiggi Morales, presidente da comissão que acompanha as obras de restauro do instituto, disse que um dos principais objetivos do ato é alertar a população sobre a importância da conclusão da reforma do local, que faz parte da história da educação no Estado. O prédio está fechado desde agosto de 2016. Os 1.354 alunos matriculados na instituição estão realocados nas escolas estaduais Roque Callage, Rio Branco e Felipe de Oliveira. Segundo Maria da Graça, os alunos do instituto não estão tendo aulas em locais adequados.
— Estou colocando como uma necessidade para a sociedade em geral. Mas, particularmente, para a comunidade do Instituto de Educação, cabe ressaltar que não estamos bem instalados. Estamos em locais que não têm condições de ensino e aprendizagem ideal — afirma Maria da Graça, mãe de um aluno formado pelo instituto e de uma aluna no último ano do ensino médio.
Ex-aluna do Instituto de Educação, a deputada federal Maria do Rosário (PT) marcou presença no evento. Emocionada, a parlamentar disse que é triste ver o local nesse estado e destacou a importância da unidade de ensino na formação de professores:
— Eu estudei aqui, fiz meu curso de magistério. Acho que todos que passamos por aqui, seja como aluno, professores, comunidade escolar ou mesmo os que passaram em frente a essa escola, sabemos que ela é um símbolo da educação e formou milhares de professores.
Aluna do 9º ano, Marina da Silva Albuquerque, 14 anos, era uma das pessoas que circulavam pelo local com um abaixo-assinado em apoio ao movimento. Em razão do retrospecto recente do andamento das obras, Marina nutre poucas esperanças em se formar com o instituto reaberto, mas reforça a importância da mobilização para os futuros alunos:
— Não tenho esperança de me formar aqui, mas luto para que, caso eu tenha filhos, que eles possam estudar e se formar aqui. Sei que não vou me formar aqui, mas tento lutar pelos próximos.
O diretor do Instituto de Educação, Wagner Cardoso, afirmou que esse ato simbólico ajuda a mobilizar a sociedade na busca pela retomada e finalização da obra. Na terça-feira (22), os integrantes do movimento participarão de sessão na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa:
— Eles estão bem receptivos. A gente espera que os deputados lutem pela educação e pelo Instituto de Educação — pontuou.
Obras em ritmo lento
A obra deveria ter sido concluída entre julho e agosto de 2017. No entanto, a primeira empresa selecionada teve o contrato rompido em agosto daquele ano em razão de atrasos. Em fevereiro de 2018, por causa de atraso, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) perdeu os recursos que possuía para a obra, concedidos pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), e passou a usar dinheiro do Tesouro do Estado. Após nova licitação e atrasos, os trabalhos foram retomados em outubro de 2018. Pouco mais de 20% dos trabalhos estão concluídos. A obra prevê troca da rede hidráulica e elétrica, substituição do piso, implantação de elevadores e rampas, iluminação interna e externa, instalação de uma central de gás e de uma cisterna e climatização das salas de aula.
Grupo de trabalho
Na quinta-feira, o governo do Estado informou que a Secretaria de Governança e Gestão Estratégica (SGGE) criou grupo de trabalho para avaliar a retomada das obras do instituto.
O Piratini cita investimento de R$ 1.192.049,84, mas que ainda é necessário um aporte de R$ 21.735.678,63 para a conclusão dos serviços. “O valor é considerado expressivo diante da situação financeira do Estado”, sublinhou o governo.
“O objetivo é analisar alternativas técnicas e financeiras para entregar a obra”, diz trecho do comunicado.