Mikaelly Andrade, 19 anos, acordou cedo na terça-feira (22). Às 6h, a jovem, que sonha em se tornar aluna da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tentou acessar a página do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para pleitear uma vaga na instituição, mas não conseguiu fazer sua inscrição na plataforma. Pelo segundo dia consecutivo, estudantes chegaram a relatar problemas de acesso ao sistema.
— Por muito pouco eu não fui aprovada no vestibular da UFRGS. Minha esperança está depositada no Sisu, mas a página não carrega. Em uma das minhas inúmeras tentativas, fiquei feliz por ter conseguido fazer o login, mas quando tentei completar as informações para selecionar minha primeira opção de curso, o sistema caiu. É muito estressante e decepcionante, porque estou perdendo a chance de me inscrever por um erro do MEC — conta a jovem, que revela ainda que outros amigos estão enfrentando o mesmo problema.
A instabilidade apresentada na plataforma começou na madrugada de terça-feira e se estendeu por esta quarta-feira (23). Em nota, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que as diversas quedas se devem ao grande volume de acessos ao sistema, que alcançou a casa dos 350 mil acessos simultâneos, sendo que este número ficava em torno dos 25 a 30 mil nas edições anteriores.
Diferentemente das seleções passadas, quando a pontuação era divulgada somente à meia-noite, neste ano, o Sisu divulgará parciais das notas de corte para todos os cursos em cinco horários: 7h, 12h, 17h30, 20h e 0h00min. A exceção fica para sexta-feira (25) – quando termina o prazo de inscrição, com última atualização às 20h.
Ávila Oliveira, professor e coordenador de Linguagens e Redação do curso pré-vestibular Unificado, alerta que a mudança promovida pelo MEC exige disponibilidade e acesso à internet dos candidatos para que eles consigam ficar de olho no site a cada divulgação das parciais.
— Tem uma vasta gama de pessoas que trabalham e outras que não têm acesso integral à internet e que dependem, por exemplo, de uma lan house para se conectar à plataforma. É preciso levar em consideração as desigualdades socioeconômicas que existem no Brasil e entender que acesso à web não é uma realidade para todos os brasileiros — diz Ávila.
O coordenador de Linguagens e Redação do curso Unificado observa também que é preciso que o site do Sisu dê conta da demanda criada pelo próprio MEC, já que o fluxo de visitas aumentou, mas a estrutura da plataforma parece não ter acompanhado esse ritmo.
— A plataforma precisa ser atualizada para atender o alto volume de tráfego que foi criado com a divulgação dessas cinco parciais ao longo do dia, afinal, é a finalização de um ano de estudo e o sonho de muita gente que estão em jogo — afirma o professor.
Mas, para ele, a mudança tem seu lado positivo, porque o candidato acompanha com maior agilidade suas reais condições de conquistar a tão sonhada vaga no Ensino Superior. Além disso, ele ressalta outra alteração importante.
— A pessoa que optar por permanecer na lista de espera da sua primeira opção de curso não vai poder entrar na graduação que foi escolhida como segunda alternativa. Isso fará com que ela escolha a graduação com mais consciência, não fique brincando com as vagas do Sisu, que ocupe o curso realmente desejado e que não tire a oportunidade de alguém que tenha colocado aquele curso como primeira opção — diz o coordenador de Linguagens e Redação do curso Unificado.
Ávila destaca também que o sistema democratizou a busca por vagas em universidades, já que, por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os estudantes podem a concorrer a diversas oportunidades nas centenas de universidades espalhadas pelo país.