As políticas de inclusão e a expansão das universidades privadas levaram a um aumento exponencial das chances de jovens de baixa renda conseguirem o diploma universitário nos últimos 20 anos. É o que indica uma pesquisa elaborada pelo Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia (CBPD) da PUCRS, em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).
O levantamento revelou que jovens de origem menos abastada têm conseguido se aproximar dos seus pares oriundos de famílias ricas na disputa por uma vaga no Ensino Superior. Enquanto em 1995 um rapaz de 18 a 24 anos e filho de trabalhadores de chão de fábrica tinha 35 vezes menos chance de conseguir entrar na faculdade em relação a um filho de profissionais bem remunerados e com curso superior, em 2015 essa diferença caiu para nove vezes.
– Ainda há uma distância importante das condições de acesso, mas, quando olhamos a trajetória, houve uma melhora muito grande – explica André Salata, professor do curso de Ciências Sociais e coordenador do CBPD.
Ainda há uma distância importante das condições de acesso, mas, quando olhamos a trajetória, houve uma melhora muito grande.
ANDRÉ SALATA
Professor do curso de Ciências Sociais e coordenador do CBPD
O levantamento reuniu informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são nacionais, sem recortes regionais. Em vez de olhar para a renda familiar, os pesquisadores analisaram as atividades ocupacionais do chefe domiciliar, por entenderem que refletem melhor a condição social das famílias, uma vez que a renda é mais volátil, podendo variar de um ano para outro.
A leitura de Salata é que a expansão do sistema de ensino básico e a abertura de mais universidades privadas foram determinantes para democratizar o acesso. Além disso, algumas políticas inclusivas na área da educação parecem ter surtido efeito, como o sistema de cotas raciais e sociais, a maior abrangência do Financiamento Estudantil (Fies), a criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), que concede bolsas em instituições privadas, e a consolidação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como porta de entrada para universidades, amenizando custos com vestibulares.
Ele avalia que uma eventual regressão em pontes de acesso como essas prejudicaria o futuro do país.
– O Brasil tem desperdiçado várias gerações com talento e vontade de inovar, mas sem condições de entrar em uma universidade. Seria mais adequado discutir formas de derrubar as barreiras sociais, e não fortificá-las – afirma o pesquisador, traçando paralelo com entrevista recente do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, na qual afirmou que as universidades devem ser reservadas para a “elite intelectual”.