A reestruturação na UniRitter e na Fadergs, que envolveu a demissão de mais de cem professores - de um total de 489, segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) –, deve também mudar o currículo dos alunos. Conforme relatos ouvidos por GaúchaZH, algumas graduações devem unir disciplinas antes separadas, aumentar cadeiras de Educação a Distância (EaD) e concentrar o número de estudantes em sala de aula.
Houve cortes pelo menos nas graduações ou pós-graduações de Arquitetura e Urbanismo, Letras, Administração, Pedagogia (incluindo a coordenação), Jornalismo, Direito, Relações Internacionais, Publicidade e Propaganda, Engenharias, Design, Jogos Digitais, Enfermagem, Psicologia e Serviço Social.
De acordo com o diretor do Sinpro, Amarildo Cenci, "o critério de demissão foi o salário mais alto". Na UniRitter, por exemplo, o plano de carreira envolvia quadriênio e possibilidade de progressão de cargo após quatro anos de casa. Ele diz que a alteração curricular ocorre para reduzir a carga horária dos professores e que, só na quinta-feira (14), mais de cem foram afastados. A Fadergs, afirma, teve 30 afastamentos – a instituição tinha 132 docentes.
— Com menos professores, haverá mais alunos em sala de aula, e a consequência será uma ampliação de trabalho para os professores que ficarão. Com as alterações no currículo e demissões, eles pretendem enxugar em 30% o custo da folha — diz, ressaltando que o sindicato venceu ação judicial contra a UniRitter por diminuição das horas por turno pagas aos docentes e que o centro universitário descumpre a decisão.
As mudanças nas grades curriculares, como o aumento das disciplinas EaD e a união de cadeiras, deixaram estudantes apreensivos. Nas redes sociais, muitos expressam insatisfação por terem o percurso universitário alterado sem consulta. E-mail institucional enviado a alunos da Fadergs comunica que a graduação terá "metodologia ativa, com o aprendizado de forma participativa" .
Um estudante do curso de Psicologia da Fadergs diz que "nenhuma informação foi passada ao longo do curso". Ele cita a união das disciplinas Desenvolvimento Humano na Infância e Desenvolvimento Humano na Adolescência em apenas uma para o próximo semestre.
— As mudanças foram bastante drásticas e não nos foi comunicado nada oficialmente — diz.
Segundo uma ex-professora do Direito da UniRitter que não quis ter a identidade revelada, as alterações representam um "sucateamento do ensino". Ela afirma que a instituição pretende unir disciplinas e aumentar a concentração de alunos em salas de aula, de forma a diminuir custos. Como exemplo, cita a união da matéria Obrigações com a de Responsabilidade Civil e a mudança de algumas disciplinas obrigatórias para o status de facultativas, pagas à parte.
Ela acrescenta que, neste semestre, algumas cadeiras tiveram o horário reduzido, de forma a retirar o adicional noturno dos professores, sem que os alunos pagassem menos.
— Isso começou na turma de primeiro semestre. A aula era das 7h45min às 11h50min e passou a começar às 9h. Já a aula da noite era das 19h às 22h50min e passou a terminar às 22h. Eu ganhei uma hora a menos, mas o aluno continuou pagando por quatro horas de aula — conta.
Ela também refuta a nota da UniRitter na qual é expresso que a instituição deu prioridade para manter "os professores melhores avaliados na Comissão Própria de Avaliação (CPA), com readequação e recomposição da carga horária, permitindo a ampliação do vínculo com a instituição".
— Isso é mentira. As minhas avaliações eram sempre as melhores. E você acha que os alunos fariam protesto se só professores ruins tivessem sido afastados? — questiona a professora, que orientaria mais de dez alunos no trabalho de conclusão de curso (TCC).
Um ex-professor de Arquitetura que estava há décadas na UniRitter afirma que pelo menos 17 docentes do curso foram demitidos.
— Praticamente todos tinha bastante tempo de casa. Não nos foi dada nenhuma explicação — diz.
Especialistas criticam medida
Após os relatos de que devem aumentar as disciplinas de Educação a Distância (Ead) como forma de concentrar mais alunos sob a tutela de menos professores, especialistas na modalidade criticam a medida.
Cíntia Boll, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em Educação a Distância, defende que a modalidade é uma boa ferramenta de aprendizagem, mas lamenta a forma como está sendo implementada.
— É uma pena. Esse entendimento de Educação a Distância não é o que trabalhamos. Nosso trabalho é vinculado ao professor usar sua expertise com o apoio de tutoria. Certamente essas mudanças (na UniRitter) vão ter algum impacto na persistência dos alunos. A evasão é algo recorrente na Educação a Distância e vem crescendo nas instituições privadas — sustenta.
Patrícia Behar, professora da pós-graduação em Informática na Educação no Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias da UFRGS, explica que muitas instituições privadas de ensino implementam a modalidade como forma de reduzir custos. No entanto, ela ressalta que nem sempre o efeito é o desejado com os universitários.
— Com menos matrículas, o número de turmas diminui, então os professores de carreira, com salário mais alto, são demitidos para o corte de custos. Tutores de disciplinas EaD em geral são mais novos e baratos. Só que nem todo o aluno tem perfil para fazer Educação a Distância. Precisa de organização, autonomia e interesse — diz.