Após informar na segunda-feira (11) uma mudança no currículo de alguns cursos e demitir, nesta quinta-feira (14), professores de diversas graduações, a UniRitter enfrentou protestos de alunos no campus Zona Sul entre o fim da tarde e início desta noite. A reportagem apurou que há demissões pelo menos nas graduações em Arquitetura e Urbanismo, Jornalismo, Direito, Relações Internacionais, Publicidade e Propaganda e Engenharias.
Professores e alunos manifestam incerteza e falta de comunicação entre a instituição e o público acadêmico quanto aos desligamentos e às mudanças no currículo. Por WhatsApp e Facebook, circulam listas de funcionários que teriam sido desligados e afirmações de que a reitora, Laura Frantz, e a pró-reitora acadêmica, Barbara Costa, também foram afastadas. A UniRitter nega e diz que "as movimentações de hoje foram restritas ao corpo docente", sem revelar o número de afastamentos.
Conforme relatos de funcionários ouvidos pela reportagem, a instituição comunicou na segunda-feira que haveria uma "padronização" nos currículos dos cursos de toda a rede Laureate, mantenedora que administra a instituição.
Uma ex-professora do curso de Direito que preferiu não ser identificada afirma que a informação repassada foi de que parte do plano de ensino e a metodologia de algumas disciplinas serão "importados" da Laureate para serem seguidos pelos funcionários da instituição. Ela diz que, apenas na graduação com aulas no Campus Canoas, 18 docentes foram demitidos. A maioria, diz, trabalhava no centro de ensino há mais de cinco anos – ao completar quatro anos, o funcionário tem direito a benefícios como quadriênio e possibilidade de promoção, explica.
— No Direito, a metodologia envolveria 22 semanas de aulas, das quais 16 seguiriam o plano de ensino e a metodologia já fornecidos. Isso tira a autonomia dos professores e não permite que a gente explore outras questões — sustenta.
Um docente que não quis ser identificado e que dava aulas há três anos e meio afirmou que as alterações devem reduzir a carga horária das aulas e incluir mais disciplinas de ensino a distância (EaD). As demissões, conta, foram anunciadas nesta quinta-feira, apesar de as reuniões terem sido marcadas com a justificativa de repassar os horários de aula para o próximo semestre.
— A explicação para a minha demissão é de que era uma decisão da rede Laureate, que os coordenadores do curso não tinham controle e que havia uma reestruturação. Eles vão unificar a rede e apostar em conteúdo pronto, EaD. Por isso conseguiram demitir tanta gente, para ficarem só algumas disciplinas mais práticas, que exigem sala de aula — afirma.
Outra professora de Direito desligada nesta quinta-feira diz que as demissões são resultado de transformações que a Laureate começou a promover na UniRitter há dois anos.
— Eles começaram a desautorizar os professores em sala de aula e até a mudar as notas de alguns alunos que eram reprovados. Com as mudanças no currículo, os estudantes estão impactados. Desde então, foi desativado o acesso ao histórico escolar pelo site e a solicitação de transferência de instituição — diz.
O Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) afirma que se reuniu na manhã desta quinta com a Laureate. Segundo o diretor do sindicato, Amarildo Cenci, a rede privada de ensino não informou o número de demissões, mas detalhou que os desligamentos eram dentro do esperado para o fim de ano – média que varia de 5% a 10%.
— Isso corresponderia a 30 professores. Mas já foram mais de 30 só hoje. Eles estão reduzindo a quantidade de horas no turno e esse enxugamento sobrecarrega o professor. Com essas medidas, com certeza a qualidade de ensino vai ser afetada — diz.
O que diz a UniRitter
Questionada pela reportagem, a UniRitter não confirmou o número de demissões, o afastamento da reitora e da pró-reitora acadêmica e as mudanças no currículo. Em nota, informou que os desligamentos não estão relacionados à reforma trabalhista e que as mudanças correspondem à busca por "melhores práticas e atualização contínua".
Confira, na íntegra, a nota:
Com o compromisso primeiro de atender ao interesse de nossos alunos, que exige melhoria contínua em nossos índices de qualidade acadêmica, e ciente das significativas transformações na Educação Superior e seu reflexo na modernização dos modelos tradicionais de ensino, a UniRitter confirma movimentações em seu corpo de professores.
Como uma Instituição de excelência, a UniRitter tem a qualidade como item irrevogável de suas ações, comprovada pelo Índice Geral de Cursos (IGC/INEP), que a coloca entre as 20% melhores Instituições de Ensino Superior (IES) privadas do Brasil. Nesse sentido, é importante destacar que a gestão docente abrange contratações, promoções e desligamentos, sendo parte da responsabilidade da Instituição de buscar as melhores práticas e a atualização contínua.
Compreendemos que alterações como essas, mesmo quando necessárias, nem sempre são fáceis para todas as partes. A UniRitter faz questão de adotar uma posição de respeito aos profissionais e agradece a todos pelo trabalho realizado até aqui. Informamos que será disponibilizado aos docentes desvinculados atividades que apoiam a recolocação no mercado. A Instituição esclarece, ainda, que as movimentações em seu corpo docente não têm qualquer relação com a nova legislação trabalhista.
Adicionalmente, a UniRitter informa que, a partir do desenho integrado das escolas de ensino, foi dada prioridade aos professores melhores avaliados na Comissão Própria de Avaliação (CPA), com readequação e recomposição da carga horária, permitindo a ampliação do vínculo com a instituição.