
A prévia de inflação de março mostra que os alimentos seguem pressionando o orçamento das famílias no país, em meio a ações do governo federal para tentar frear os preços. O grupo de alimentação e bebidas saltou 1,09% no mês dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que antecipa a inflação do mês.
Ovo, tomate e café estão entre os itens que apresentaram as maiores variações, reforçando a percepção dos consumidores nas gôndolas. Especialistas avaliam que as medidas do governo federal devem ser percebidas de forma mais ampla apenas nos próximos meses e não garantem redução robusta nos supermercados.
A inflação dos alimentos causa dor de cabeça no Palácio do Planalto, que efetivou ações neste mês de março, como a redução de imposto de importação de alguns produtos e desburocratização de regras de comercialização. Além disso, discutiu alternativas com setores produtivos e de varejo.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que os preços dos alimentos seguem altos na esteira de fatores como desvalorização cambial, demanda e clima. Com isso, a concentração de aumentos em itens importantes ainda afeta o grupo.
Braz destaca que ainda é cedo para verificar efeitos do imposto de importação zerado nos preços dos alimentos. O especialista lembra que os dados do IPCA-15 foram coletados até o dia 17 de março. Portanto, não pega todo o impacto da intervenção do governo.
Efeito maior nos próximos meses
Na avaliação de Braz, a tarifa de importação zero ainda deve contribuir no combate à alta dos preços, mas com repercussão maior em abril e maio. No entanto, o especialista reforça que o impacto cheio depende de outros fatores.
— Acho que algum efeito deve ter, mas não deve ser na magnitude que a gente espera e existe muita incerteza por trás disso, porque todo produto que importamos é em dólar. Se a nossa moeda desvalorizar, uma parte desse efeito da tarifa zero fica no câmbio. Vou importar com taxa zero, mas com a moeda enfraquecida. Pode ser que eu não colha todos os benefícios disso.
Braz destaca a queda de 0,77% nas carnes em março, que trouxe alívio para o grupo de alimentação e impediu alta maior. No entanto, ele afirma que essa redução está mais ligada a outros fatores internos de demanda e produção.
O professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da UFRGS, afirma que a redução no imposto de importação também pode ter efeito reduzido, porque os preços estão altos no mundo todo.
— O imposto de importação ajuda um pouquinho, mas não vai ser uma bala de prata que vai resolver o problema da inflação. Se estivesse barato lá fora e caro aqui, talvez resolvesse um pouco mais. Mas a inflação de alimentos pega o mundo todo.
José Antônio Ribeiro de Moura, economista e professor da Universidade Feevale, afirma que a demanda de outros países por itens que estão caros no Brasil também pode mitigar o efeito das ações do governo federal.
— A queda da taxa de importação de alguns itens não vai talvez fazer um efeito real que o governo espera. Porque nós temos alguns produtos que são relevantes para o IPCA e muito pressionados pelo aumento de demanda externa.
Para Weiss, é difícil precisar quando os resultados da medidas serão verificados com maior força. O professor entende que, em parte, eles já podem estar sendo observados, porque a inflação de alimentos está menos espraiada.
Na terça-feira (25), a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Simone Tebet, afirmou que os preços dos alimentos devem baixar nos próximos 60 dias diante das medidas que vêm sendo adotadas pelo governo federal. A declaração foi dada em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Ovo e café mais caros
Entre os itens com maiores altas nos preços, o ovo de galinha e o café moído voltaram a aparecer no topo da lista. No caso do café, mesmo com desaceleração em relação a fevereiro (11,63%) no IPCA-15, o produto anotou nova alta, de 8,53%. Já o ovo apresentou salto expressivo, de 19,44%. No mês passado, o item havia subido 2,56%.
O economista André Braz afirma que o ovo segue sofrendo com aspectos sazonais de consumo e de embaraços na produção. Em relação ao café, Braz afirma que o preço do grão é afetado por choque de oferta causado por problemas climáticos, que afetaram a safra.
— Por isso que o café teve o imposto de importação reduzido. Para tentar entrar um café para competir com o preço nacional que está mais caro. Só que ainda não deu tempo disso trazer nenhum efeito, então o café deve continuar por mais algum tempo caro, assim como o ovo. Mas o ovo, logo depois da quaresma, já deve começar a cair de preço — explica Braz.
