
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta segunda-feira (24), em Rio Grande, no sul do Estado, um contrato para a construção de quatro navios. Com investimento estimado em US$ 278 milhões — sendo US$ 69,5 milhões por navio —, cerca de R$ 1,6 bilhão na cotação de sexta-feira (21), o negócio deverá gerar mais de mil empregos diretos.
O presidente viajou ao município especialmente para a assinatura. Antes, também fez uma escala em Pelotas, onde desembarcou por volta das 10h40min. Após uma parada, ele seguiu para Rio Grande, de helicóptero. Após a cerimônia, retornou a Brasília.
Em discurso, Lula falou da situação do país, pedindo para que a população "não acredite nessa bobagem da macroeconomia".
— É na microeconomia que a gente vai salvar esse país. Eu quero pouco dinheiro na mão de muitos e não muito dinheiro na mão de poucos. É isso que eu quero pra esse país. Eu quero dinheiro rodando na mão do povo — afirmou.

Navios
As embarcações do tipo Handy são construídas pela empresa Ecovix, que opera o Estaleiro Rio Grande, em parceria com a Mac Laren. Os novos navios serão utilizados para transporte de derivados de petróleo na costa brasileira e vão ampliar a capacidade de atendimento da Transpetro à Petrobras.
— O Brasil é o maior país da América do Sul. Por que a gente não consegue ter uma indústria naval poderosa? — indagou Lula, durante discurso.
O empreendimento integra o Programa de Renovação e Ampliação da Frota da Transpetro.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirma que esse tipo de embarcação é especializado no suprimento de diesel para operações de apoio. Ela adiantou que os cascos serão produzidos em Rio Grande e finalizados no estaleiro Mac Laren no Rio de Janeiro. Ela estima que sejam gerados cerca de quatro mil empregos diretos e indiretos durante a construção.
— Creio que os gaúchos agradecem, presidente Lula, porque o que nós estamos fazendo aqui é parte de um programa grandioso de renovação de frota que vai persistir em todo o quinquênio e já está programado que, de novo, vai acontecer aqui no Rio Grande do Sul — disse Magda.
Expectativa
O anúncio do empreendimento gera expectativa para a cidade e para a Região Sul. O polo naval de Rio Grande, que, na década de 2010, chegou a contar com 12 mil trabalhadores, hoje conta com cerca de 200, que realizam operações menores, como desmanche e reparos em embarcações.
Com a construção das novas embarcações, o número de trabalhadores no complexo da Ecovix saltará dos atuais 200 para 1,2 mil, segundo a companhia. Esse total pode chegar a até 1,4 mil trabalhadores.
— Este estaleiro vai voltar a funcionar. Estes empregos não são amanhã, não. Vai demorar uns meses para esse emprego começar, porque tem que estruturar tudo para começar a montar outra vez as coisas. Porque isso aqui foi semidestruído — disse Lula.
De acordo com o presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, em entrevista à colunista de Zero Hora Marta Sfredo, os trabalhos começam logo após a assinatura do contrato, com as empresas já autorizadas a comprar aço, e se estendem ao longo de quatro anos.
— O primeiro (navio) tem de ser entregue em 30 meses, o segundo, em 36, o terceiro, em 42, e o quarto, em 48. A cada quatro meses, inicia um navio novo. O prazo máximo é de quatro anos — afirmou.
Transição energética
Recebido com vaias, o governador em exercício, Gabriel Souza, relembrou as dificuldades enfrentadas pelo RS durante as cheias de 2024 e agradeceu o apoio recebido do governo federal. Ele também aproveitou a oportunidade para reforçar o apelo ao vice-presidente Geraldo Alckmin e ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, pela liberação do Ibama para a exploração de energia elétrica offshore no RS.
— É fundamental que aproveitemos aqui os potenciais eólicos e também a utilização do nosso mar, até mesmo das águas internas, para fins de estabelecimento dessa energia que pode vir a gerar outros produtos, como é o caso do hidrogênio verde — sublinhou Souza.
O vice-governador também aproveitou para reiterar o pedido de soluções os trabalhadores da Usina Termelétrica Candiota 3, que foi desligada em 31 de dezembro de 2024. O fim das operações gerou clima de aflição e incerteza entre os 500 funcionários da unidade. O tema já havia sido abordado com Alckmin em sua visita ao polo petroquímico, em Triunfo, no mês passado.
— Precisamos de uma solução para restabelecer os empregos naquele município para termos uma transição energética justa. Sei muito bem a sua opinião sobre o tema e quero muito lhe agradecer de antemão já. Certamente essa solução, que virá, porque é desnecessário dizer, a ausência dessa solução consolidaria o desemprego massivo nessas regiões que precisam ainda dessa matriz energética para se desenvolver — disse Souza, encerrando sua fala, novamente sob vaias.

Investimentos nas refinarias
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, frisou que, além da produção dos quatro navios, a estatal também mira a exploração da bacia de Pelotas. Outro foco de investimentos são as refinarias.
— Nós temos aqui duas refinarias. Nosso planejamento estratégico prevê investimentos em refino e fertilizantes da ordem de R$ 40 bilhões no quinquênio. Vão ser investimentos em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, que vão gerar cerca de 130 mil postos de trabalho entre diretos e indiretos durante as obras de manutenção e manutenções programáticas — afirmou.
Segundo a presidente da estatal, para as duas refinarias gaúchas, a previsão é de R$ 8,5 bilhões em investimentos no quinquênio (cinco anos), gerando até 24 mil empregos.
Para Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas, na Região Metropolitana, Magda Chambriard anunciou investimento de R$ 3 bilhões até 2029, incluindo paradas programadas e ampliação de capacidade. Segundo ela, o investimento vai propiciar a criação de cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos.
— Esse ano, serão 6 mil empregos diretos e indiretos aqui na Alberto Pasqualini e investimentos que serão de R$ 240 milhões — sublinha.
Energia limpa
A presidente da Petrobras reiterou o compromisso do governo federal com a transição energética para uma matriz mais sustentável e diz que a estatal "não está brincando". Ela se refere à Refinaria Riograndense, que deve será a primeira biorrefinaria do país.
— Em linha com o nosso compromisso de liderar essa transição energética justa no Brasil, ela vai ser a primeira refinaria a fabricar produtos 100% renováveis. Ela será uma biorrefinaria para produzir combustíveis a partir de óleo vegetal. Ano passado, nós comprovamos a viabilidade desse processamento de óleo vegetal em uma das nossas unidades. Nos próximos anos, nós vamos converter 100% da refinaria para produzir combustível de aviação e diesel 100% renovável. Ela vai ser a primeira do Brasil que não utilizará nenhuma gota de petróleo — projetou.
O investimento previsto é de aproximadamente R$ 5,5 bilhões, com a criaçao de cerca de 4 mil empregos entre diretos e indiretos. Para 2025, estão previstos mil empregos e investimentos da ordem de R$ 250 milhões, segundo Chambriard.
— Com essa refinaria nós vamos ampliar nossa capacidade de fabricação de diesel co-processado com 5% de óleo vegetal. E ainda esse ano vamos fazer os testes operacionais da fabricação de combustível de aviação com conteúdo renovável, além de prosseguirmos com os projetos de implantação de três unidades que vão produzir 44 mil barris por ano, mais ou menos 17 mil barris por dia de combustível de aviação e diesel produzidos com matéria 100% renovável — comentou a presidente da empresa.

Magda também afirmou que haverá programas sociais e ambientais no RS. Segundo ela, serão quase 20 mil pessoas beneficiadas em 66 municípios gaúchos com investimentos que alcançam R$ 135 milhões.
— Investimentos que também abrangem 10 territórios indígenas Guarani, mostrando o compromisso da Petrobras com o setor do país e com a atenção das pessoas — conclui.
Potencial naval
O acionista da Ecovix, empresa responsável pelo Estaleiro Rio Grande, José Antunes Sobrinho, destacou o potencial do polo naval gaúcho e da cidade onde está instalado.
— É um dos maiores estaleiros abaixo do hemisfério sul no planeta, em uma cidade que tem a capacidade de 5 mil empregos. Não ser feito nada aqui, realmente seria um contrassenso.
Ele também enfatizou que, em diversos países, como Noruega, Singapura e Estados Unidos, a indústria naval protege o conteúdo nacional.
— Não há país que, tendo capacidade e mercado, não proteja seus empregos. Portanto, um conteúdo local mínimo tem que, obrigatoriamente, ser observado para manter emprego e renda em um ativo de capital intensivo como é um estaleiro.
