Após o anúncio de que alguns frigoríficos brasileiros suspenderiam o fornecimento de carne ao grupo Carrefour no Brasil, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira (25) que se sente “feliz” com essa reação.
A movimentação aconteceu após o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmar na última quarta-feira (29) que a rede deixaria de comprar carne do Brasil para o mercado francês.
Fávaro disse que não se trata sobre o boicote econômico, mas sim a maneira que Bompard se manifestou a respeito da situação, se referindo à qualidade sanitária das carnes brasileiras.
— A França compra carne do Brasil há quarenta anos, só agora que ele foi detectar isso? Então é um absurdo, ainda mais querer fazer barreira comercial — afirmou o ministro.
Para o ministro, a decisão dos fornecedores está correta.
— Se para o povo francês, o Carrefour não serve para comprar carne brasileira, o Carrefour que também não compre carne brasileira para colocar nas suas lojas aqui no Brasil — disse.
Apesar da suspensão do fornecimento de carnes pelos frigoríficos, o grupo reforçou que não há desabastecimento dos produtos em suas lojas. No último sábado, frigoríficos brasileiros pararam de fornecer carnes ao Grupo Carrefour no Brasil, após a decisão da rede na França de não vender mais o produto do Mercosul.
Segundo fontes da indústria, a interrupção no fornecimento atinge mais 150 lojas da rede no Brasil. Entre os frigoríficos que aderiram à interrupção estão a JBS, a Marfrig e o Masterboi, que não se manifestaram publicamente, conforme apurou a reportagem.
Somente a Friboi, marca de carnes bovinas da JBS, responde por 80% do volume fornecido ao grupo de origem francesa, sendo que na rede Atacadão o fornecimento da marca é de 100%.
A JBS cancelou a saída de produtos das fábricas e dos centros de distribuição que seriam destinados ao Grupo Carrefour Brasil imediatamente, segundo fontes. A estimativa do mercado é de que a partir desta segunda-feira os efeitos da suspensão das entregas comece a ser percebido nas gôndolas da rede, já que se trata de mercadoria resfriada e/ou congelada com estoques limitados. A decisão da indústria foi endossada pelo governo, que cobrou do setor uma "ação enérgica" contra o boicote da empresa.
A represália da indústria foi imediata à declaração do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, que anunciou na quarta, que a rede pararia de vender carne do Mercosul nas lojas francesas. Um dos frigoríficos cancelou no mesmo dia o envio de caminhões que abasteceriam 50 unidades do Carrefour. A indústria cobra uma retratação pública de Bompard para retomar o abastecimento.
Em nota, a rede afirma que não há desabastecimento em nenhuma de suas lojas.
"Nós, do Grupo Carrefour Brasil, lamentamos profundamente a atual situação e reafirmamos nossa estima e confiança no setor agropecuário brasileiro, com o qual sempre mantivemos uma relação sólida e de parceria. Entendemos a importância deste setor para a economia e para a sociedade como um todo, e continuamos comprometidos com o fortalecimento dessa relação", disse o Carrefour Brasil na nota divulgada nesta segunda-feira.
O grupo afirmou também que há 50 anos "tem construído e mantido uma excelente relação" com seus fornecedores, pautada pela "confiança mútua". "Por isso, estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil", explicou o grupo.
"Reiteramos nosso compromisso com o país, o respeito ao consumidor e a transparência em todas as etapas deste processo. Seguiremos trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes", concluiu o grupo na nota.
Entenda a decisão do Carrefour
No documento em que anunciou que o Carrefour deixará de comprar carne produzida nos países do Mercosul, Bompart ressaltou que a rede estaria pronta para a implementação da iniciativa "qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer". O Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) emitiram comunicados sobre a declaração.
Em meio à repercussão negativa vinda de órgãos e entidades brasileiras, o Carrefour informou, na quinta-feira (21) que a suspensão de compra de carnes do Mercosul se aplica apenas às lojas da França. Em nota, a rede esclareceu que a medida, "em nenhum momento, se refere à qualidade do produto do Mercosul."