Além do transtorno gerado para o deslocamento de passageiros que desejam chegar e partir de Porto Alegre, a interrupção do funcionamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, fechado pela enchente desde maio, também causa impacto econômico e logístico às empresas gaúchas. De acordo com estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), a falta de operação no terminal de cargas na Capital deve gerar uma queda de aproximadamente R$ 580 milhões (cerca de US$ 107 milhões) nas exportações e importações que se utilizariam da estrutura aeroportuária ao longo de 2024.
Conforme o levantamento, produzido pela Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da Fiergs, a expectativa era de que haveria um fluxo comercial de US$ 305 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) entre janeiro e dezembro de 2024 no aeroporto da Capital, sendo US$ 43 milhões (cerca de R$ 233 milhões) referente a exportações e US$ 262 milhões (aproximadamente R$ 1,4 bilhão) a importações. Após a tragédia climática de maio e o consequente fechamento do aeroporto, essa projeção caiu para um total de US$ 198 milhões (R$ 1 bilhão), sendo US$ 17 milhões (R$ 92 milhões) em exportações e US$ 181 milhões (R$ 981 milhões) em importações, registrando redução de aproximadamente 35% em relação à previsão inicial.
— O aeroporto é por onde passam principalmente cargas de alto valor agregado, tanto para exportação quanto para importação, com um valor intrínseco muito alto. São produtos que muitas vezes envolvem alto grau de tecnologia, e que a partir do aeroporto chegam e vão para os principais mercados que mantêm relação comercial com o Estado — afirma o ex-diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), Luiz Afonso Senna.
Até o final de abril, conforme a Fraport, o terminal de cargas do aeroporto havia movimentado 11,4 mil toneladas de mercadorias. Em todo 2023, foram 38,8 mil toneladas, o maior volume registrado desde a retomada do transporte aéreo de cargas no aeroporto da Capital, há seis anos.
— A recuperação do Salgado Filho é muito importante para a recuperação da economia do Estado como um todo. Cumpre papel fundamental para o transporte de cargas, mas também serve como o principal ponto de conexão do Rio Grande do Sul com o resto do mundo, por isso seu restabelecimento deve ser prioridade entre as obras de recuperação estrutural ainda pendentes — reforça o economista Marcos Lélis.
Retomada dos voos no Salgado Filho
Na terça-feira (16), o governo federal e a Fraport anunciaram para outubro a retomada dos voos no Aeroporto Salgado Filho, com uma oferta inicial de 50 voos diários, em média, que deverá aumentar gradativamente até a volta da operação completa, prevista para dezembro. De acordo com a concessionária do aeroporto, o transporte de cargas pode voltar já em outubro, mas como ainda haverá uma limitação de utilização da pista, com capacidade reduzida para receber peso, caberá às companhias aéreas avaliar o ritmo de retorno do transporte de produtos.
Como explica a Fraport, grande parte do transporte de mercadorias que passava normalmente pelo Aeroporto Internacional Salgado Filho ocorria nos chamados voos mistos, ou seja, que transportam passageiros e também produtos no porão, aumentando a rentabilidade. Essa modalidade não vem ocorrendo na Base Aérea de Canoas, em razão das limitações da operação emergencial no local.
Além de algumas conexões eventuais, eram dois os voos diários exclusivos para o transporte de cargas no aeroporto da Capital, sendo um deles operado pela Total Linhas Aéreas, que transportava ao Rio Grande do Sul cargas dos Correios. O voo da Total transportava diariamente 19 toneladas, e após o fechamento do Salgado Filho, a empresa não enviou mais nenhuma aeronave ao Estado — desde a enchente, todas as entregas de cargas dos Correios em território gaúcho estão sendo realizadas exclusivamente por via terrestre, afetando também os prazos de entrega.
De acordo com o presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura e CEO do Grupo Intelog, Paulo Menzel, a via terrestre tem sido justamente a principal alternativa utilizada pelas empresas gaúchas para compensar a falta de operação do terminal de cargas do aeroporto Salgado Filho.
— Após o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, por mais que alguns outros aeroportos menores tenham ganhado mais voos, a prioridade desses é para o transporte de passageiros, como em Canoas. Por isso, quase 100% das empresas voltaram a escoar suas cargas por via rodoviária, diretamente até Guarulhos e Viracopos, quando for necessário. Mesmo que o custo aumente, é uma situação temporária até que as coisas se normalizem, e essa opção é melhor do que perder o cliente — destaca.
— Esses custos adicionais afetam ainda mais a competitividade das empresas gaúchas, que já têm uma posição logística prejudicada em razão da localização geográfica do Estado, no extremo sul do país. Por isso a retomada da operação no Salgado Filho é tão importante — pondera, em complemento, Luiz Afonso Senna.
Malha aérea emergencial
Em razão da inundação do Aeroporto Internacional Salgado Filho, foi estabelecida uma malha aérea emergencial para abastecer o Rio Grande do Sul. A Base Aérea de Canoas foi autorizada a receber voos comerciais, se transformando na principal alternativa para quem deseja chegar ou partir da Capital, e outros aeroportos gaúchos e catarinenses também receberam incremento em suas operações.
Segundo a Fraport, o aeroporto da Capital operava entre 140 e 160 voos diários, em média, até o início de maio. Atualmente, para compensar o fechamento do Salgado Filho, a malha aérea emergencial, conforme a última atualização do Ministério de Portos e Aeroportos, oferece até 148 voos semanais, a depender da demanda, distribuídos entre aeroportos gaúchos e catarinenses. No último dia 11, a Base Aérea de Canoas teve autorizada a ampliação de sua operação, podendo chegar até a 87 voos semanais nos próximos dias.
Confira a distribuição a seguir:
- Base Aérea de Canoas: 49 voos semanais (já com autorização para chegar a até 87)
- Aeroporto de Caxias do Sul: 39 voos semanais
- Aeroporto de Passo Fundo: 21 voos semanais
- Aeroporto de Santo Ângelo: 6 voos semanais
- Aeroporto de Pelotas: 6 voos semanais
- Aeroporto de Santa Maria: 3 voos semanais
- Aeroporto de Uruguaiana: 3 voos semanais
- Aeroporto de Florianópolis (SC): 14 voos semanais
- Aeroporto de Jaguaruna (SC): 7 voos semanais