Em fase de recuperação da terceira grande enchente em nove meses, empresários da região do Vale do Taquari encontram barreiras na tentativa de conseguir recursos federais para a retomada da produção. Os relatos apontam que as medidas adotadas até o momento pelo governo Lula são insuficientes e que as linhas de crédito subsidiado têm custo maior do que os juros anunciados.
As dificuldades foram referidas pelo presidente do Câmara de Indústria e Comércio (CIC) da região, Ângelo Fontana, e pelo diretor da Lajeadense Vidros, Renato Arenhart, em entrevista coletiva antes da participação do painel Tá na Mesa, da Federasul, nesta quarta-feira (19).
De acordo com Fontana, os anúncios feitos pelo governo estão em descompasso com a necessidade dos empreendedores.
— O Rio Grande do Sul precisa ser visto como uma calamidade extrema. Temos que receber dinheiro a fundo perdido e aplicar bem esse dinheiro para virar esse jogo — afirmou.
Por sua vez, Arenhart apontou que o spread bancário aplicado pelos bancos nas operações financeiras encarece o crédito oferecido pelo BNDES.
— Estivemos em fevereiro no BNDES, mas batemos com a cara na porta. Os valores que anunciam são uma coisa, mas a gente vai no banco e é outra. Anunciam que o juro para construção é 1%, tu vai lá é 7% — explicou.
Até o momento, o governo federal já anunciou a liberação de R$ 95 bilhões para o Rio Grande do Sul, mas apenas R$ 15 bilhões são de recursos novos. Os outros R$ 70 bilhões são referentes à antecipação de benefícios ou linhas de crédito.
Durante a reunião-almoço, o presidente da CIC do Vale do Taquari disse que, além de recursos a fundo perdido, os empresários dependem de providências como o alongamento do prazo de dívidas existentes, aportes do governo federal em um fundo garantidor que possibilite a obtenção de juros menores e a ampliação de prazos de carência.
— A gente não vê as soluções aparecerem. Estamos fincando impotentes para se manter em pé e manter os funcionários. Cheios de entraves e burocracia, com muita promessa e pouca ação — emocionou-se o conselheiro da Fontana S.A., fabricante de produtos de limpeza, higiene e químicos de Encantado.
Mediado pelo presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, o painel também recebeu o CEO do Instituto Caldeira, Pedro Valério, e o padre Gerson Bartelli, secretário da Associação dos Amigos de Nova Roma do Sul.
Valério, que chegou atrasado em razão de novo alagamento nas proximidades do Caldeira nesta quarta-feira, reforçou o coro dos empresários do Vale do Taquari.
— O que temos escutado das empresas do instituto é que o recurso que conseguiram é o auxílio de R$ 15 mil do Sebrae. Porque quando vão, de fato, fazer a avaliação das taxas, fica completamente fora do contexto — relatou.
Ao final do evento, o presidente da Federasul disse que o desafio do setor produtivo é "desconstruir a narrativa" de que os recursos destinados ao Estado até o momento são suficientes para a recuperação econômica.
— Essa narrativa nos responsabiliza pelo estrago social e econômico que haverá. E ela não é verdadeira: o dinheiro não está vindo à altura — ressaltou Sousa Costa.