A queda de 0,07% na prévia da inflação de julho amplia a chance de início no corte da taxa de juro básico do país, que está prestes a completar um ano estacionada em 13,75%, já na próxima semana. O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), reúne-se nos próximos dias 1º e 2 de agosto. A deflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) no sétimo mês do ano entra no rol de indicadores que criam ambiente confortável para o começo da desidratação da Selic, segundo especialistas. No entanto, ainda não há consenso sobre o tamanho do primeiro talho no juro, aguardado por parte do mercado e principais setores produtivos.
No ano, o IPCA-15 anota alta de 3,09%. Em 12 meses, ficou em 3,19% com a atualização de julho (veja mais abaixo).
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que o IPCA-15 de julho reforça a tendência de desaceleração da inflação no país. Perda de ritmo na alta dos núcleos da inflação mantém um cenário mais favorável para o início da inversão na curva do juro básico no país a partir da próxima semana, segundo o especialista. No entanto, Braz mantém cautela em relação ao tamanho do corte:
— Os indicadores de núcleo estão mais favoráveis. Vai haver algum corte de juro na próxima reunião. Acho que há um consenso sobre isso. Mas não acredito que seja mais ousado. A redução de 0,25 ponto percentual deve permanecer. Agora, na reunião seguinte, de setembro, a gente pode ter um corte mais robusto, dentro de uma margem de segurança maior.
O diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, também estima esse cenário mais moderado. Storfer afirma que não é típico do BC realizar movimentos bruscos, exceto em casos onde avalia que a conjuntura descolou rapidamente de suas expectativas. Uma redução de 0,50 ponto percentual agora indicaria outra redução nesse patamar na reunião seguinte. Como a autoridade monetária demonstrou prudência ao longo do último semestre, a tendência seria iniciar a retração na taxa pelo 0,25 ponto percentual.
— Tem uma máxima na Selic que diz: o juro sobe de elevador e desce de escada. A alta é mais rápida e a queda um pouco mais lenta — exemplifica.
- Qual a diferença entre IPCA e IPCA-15?
O IBGE destaca que o IPCA-15 difere do IPCA, a inflação oficial do país, somente no período de coleta e na abrangência geográfica. O IPCA costuma sair nos primeiros dias de cada mês, mostrando o resultado do mês imediatamente anterior. Já o IPCA-15 é divulgado no mês pesquisado.
- IPCA
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pega um período maior de tempo, analisando os preços, em geral, do dia 1º a 30 do mês de referência. O IPCA abrange as famílias com rendimentos de um a 40 salários mínimos residentes em 10 regiões metropolitanas, cinco municípios e no Distrito Federal.
- IPCA-15
Usado como prévia de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) tem coleta, em geral, do dia 16 do mês anterior ao 15 do mês de referência. O levantamento ocorre em 11 áreas urbanas do país.
Espaço para corte mais robusto
Já o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, enxerga espaço para corte de 0,50 ponto percentual na próxima semana. A tendência de desaceleração da inflação e outros movimentos, como aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária e queda no valor do dólar, criam esse colchão de segurança para o BC, segundo o economista. Agostini cita que um resumo dos últimos comunicados e atas do Copom sugere o recuo de 0,25 ponto percentual. No entanto, desde o último encontro, o cenário econômico apresentou movimentos que abrem caminho para uma ação mais incisiva:
— Tudo aquilo que antes era um fator restritivo, já não é mais. E o câmbio está ajudando bastante. Então, não faz muito sentido ele (BC) manter esse preciosismo.
O professor sênior do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo afirma que há espaço para corte de 0,50 ponto percentual diante de fatores de curto prazo, como inflação perdendo força e câmbio favorável, mas avalia que o Copom não vai seguir esse caminho. O docente afirma que ainda existe um grau de incerteza sobre o cumprimento de metas no âmbito fiscal no próximo ano, o que justifica a cautela do colegiado.
— Há possibilidade de corte maior, mas o mais provável é que o BC mantenha o que de certa forma está sendo incorporado pelo mercado, que é uma redução de 0,25 ponto percentual. Ainda existe uma incerteza em relação à possibilidade de se conseguir zerar o déficit primário já no ano que vem. E isso é fundamental para evolução da inflação no longo prazo — explica.
Em movimento distinto da média nacional, o IPCA-15 na região metropolitana de Porto Alegre teve alta de 0,34% em julho, 0,38 ponto percentual acima da taxa de junho (-0,04%). A Grande Porto Alegre teve a maior alta do mês entre as 11 áreas pesquisadas. Seis dos nove grupos pesquisados tiveram alta, com transportes registrando a maior variação (1,82%) e o maior impacto.