Na esteira de atividade econômica com avanço limitado, a indústria do Rio Grande do Sul amarga resultado negativo neste ano. O setor registra queda de 8,7% na produção no acumulado de janeiro a abril ante o mesmo período do ano passado, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta terça-feira (13). A variação negativa ocorre mesmo após dois meses com dados positivos, que diminuem a intensidade da queda, mas não revertem o cenário. Juro ainda em patamar elevado, cautela em relação ao avanço de reformas do governo e impacto da crise da Argentina nos negócios do Estado ajudam a explicar esse movimento de retração, segundo especialistas e integrantes do setor.
Bernardo Almeida, analista da pesquisa do IBGE, afirma que a indústria gaúcha apresenta um movimento parecido com o observado no país no agregado do ano, mesmo que em patamar maior, com volatilidade, cautela e arrefecimento em um ambiente de incerteza, inflação alta, desemprego e juro elevado.
— É um setor que vive se equilibrando entre oferta e demanda justamente para evitar um excesso em alguma dessas pontas. É um setor marcado por essa volatilidade — explica Almeida.
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), reforça o peso da manutenção da taxa de juro em nível elevado na produção industrial. A especialista afirma que esse fator segura os investimentos por parte dos empresários, que esperam condições melhores para realizar aportes. Além disso, incerteza em relação ao avanço de pautas do governo, observada nos primeiros meses do ano, e demanda prejudicada por endividamento e inadimplência alta são outros pontos que travam o setor, segundo a professora:
— Tem muito a ver com a taxa de juro alta que afeta os financiamentos de determinados bens mais caros, como é o caso de veículos, mas também com a situação econômica das famílias, que estão com alto nível de endividamento e inadimplência.
O recorte por segmentos corrobora a avaliação da economista. Após o grupo de derivados de petróleo (-28,6%), metalurgia, fabricação de produtos de metal e de veículos automotores estão entre os principais setores que puxaram a queda da indústria no acumulado do ano.
O vice-presidente de Indústria da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ruben Antonio Bisi, afirma que a região da Serra, forte no segmento metalmecânico, também sente essa retração na produção. Paralisações em linhas de montagem de veículos, que afetam o ramo de autopeças, e arrefecimento na demanda por ônibus e máquinas agrícolas prejudicam o desempenho do setor nesses primeiros meses do ano. Além disso, o dirigente cita a influência da crise na Argentina nesse processo:
— Na questão da exportação, nosso maior mercado é a Argentina, que vem sofrendo gradativamente. Neste ano, a venda de peças e materiais para o país vizinho diminuiu muito.
Divulgado na semana anterior, o Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), também mostra a falta de tração do setor. O indicador, que leva em conta uma série de variáveis como faturamento, utilização da capacidade instalada e emprego, registrou queda de 2,7% no acumulado dos primeiros quatro meses ante o mesmo período do ano passado. Entre os segmentos, produtos de metal e máquinas e equipamentos estão entre os principais impactos negativos no período.
Alta em abril
Em abril, a produção industrial gaúcha apresentou alta de 2,2% ante o mês imediatamente anterior – um dos únicos resultados positivos no país. As fontes ouvidas pela reportagem de GZH avaliam que essa elevação ocorre diante fatores pontuais, como bons números em alguns segmentos específicos ligados a derivados de petróleo e fumo.
Para os próximos meses, os especialistas e integrantes do setor projetam a indústria ainda em ritmo lento, aguardando avanço de reformas no Congresso Nacional e de início dos cortes no juro.