O custo dos alimentos voltou a pressionar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com variação abaixo do Índice Nacional, a inflação na Grande Porto Alegre subiu 0,49% em abril, ante 0,61% no país. Com isso, acumula alta de 2,75% no ano, pouco superior à nacional, que é de 2,72% nos primeiros quatro meses de 2023.
O desempenho do mês passado contraria o registrado na publicação anterior, referente a março, quando a Região Metropolitana havia subido 1,25%, bastante acima da nacional, então em 0,75%.
Assim como no Brasil, por aqui, o indicador tem dado novas demonstrações de persistência. Chama a atenção do economista-chefe da CDL- Porto Alegre, Oscar Frank, que, embora Alimentação e Bebidas tenha vindo bastante acima da média nacional (1,17%, na Grande Porto Alegre, e 0,71% no país), outros itens atuaram para compensar esse crescimento.
Foi o caso da Habitação, por exemplo, que avançou 0,48% no Brasil, mas ficou negativa no recorte para o Rio Grande do Sul (-0,23%). Segundo ele, o dado reforça que o processo de queda gradual da inflação se dará de maneira muito mais lenta do que o desejado, sobretudo, pelo que está associado ao comportamento da atividade econômica.
A explicação passa pela tarifa de energia elétrica residencial, que no Brasil subiu 0,48% e no Estado apresentou deflação de 0,13%. Isso em razão de um reajuste de valores verificado em quatro grandes praças, o que não aconteceu por aqui.
— Por isso, é preciso cuidado para avaliar dados mensais, porque existem esses aspectos sazonais e questões típicas de períodos e janelas que devem ser desconsideradas para avaliar as tendências — afirma.
Ao abrir as análises, Frank afirma que a principal surpresa não veio dos medicamentos e dos planos de saúde, apontados como vilões do índice nacional, mas sim da alimentação in natura. Para o economista, isso ocorre porque esses itens não são tão sensíveis à safra de grãos, que gera uma baixa significativa no preço de soja e milho, por exemplo.
— Mas não geram efeito para esse item, que voltou a apresentar altas significativas em alguns preços, como no do tomate — comenta.
Habitação e Tranportes no negativo
Economista da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo destaca que, entre os nove grupos de despesas acompanhados pelo IBGE, em quatro deles a inflação foi menor do que no Brasil, sendo que em dois grupos ficou no campo negativo — além do grupo da Habitação, já citado por Frank, o dos Transportes (0,56% no Brasil e -0,19 em Porto Alegre).
— Só não foi menor porque a inflação de alimentação e bebidas foi significativamente maior do que no Brasil, o que potencializou seu efeito em decorrência do peso desse grupamento no IPCA. O subitem que mais se destacou no mês foi o tomate, que subiu 25,53% no mês na RMPA, enquanto, no Brasil, o aumento foi de 10,64% — analisa.
No acumulado em 12 meses, a inflação na Região Metropolitana também é menor do que no país. Enquanto em Porto Alegre é de 3,71%, no Brasil bate em 4,18%. Dos nove grupamentos pesquisados, em seis deles o IPCA gaúcho fica abaixo do nacional.
Patrícia aponta, entretanto, que no grupo Alimentação e Bebidas, cujo peso no índice é mais elevado, a escalada dos preços é 1,18 pontos percentuais mais alta do que na média brasileira. Por outro lado, no grupo Transportes (com peso semelhante), é exatamente 1,18 pontos percentuais menor do que no país.
Juros
O resultado de abril significa outra má notícia para o cenário de juros no país. De acordo com Frank, para acelerar o ciclo de redução da Taxa Selic, seria necessário outro tipo de comportamento para a inflação. Mas não foi o que aconteceu no mês passado.
— Pelo menos em curto prazo, não entendo que isso possa gerar algum tipo de corte de juros — sustenta.
Ele lembra que existe, hoje, no Brasil, uma grande discussão sobre o tema, com a pressão de setores do governo federal tentando exercer influência sobre o Banco Central para sensibilizar o colegiado da instituição — o Copom — a flexibilizar o atual patamar de 13,75% ao ano:
— Se não houver mudança no regime de metas inflacionárias, entendo que os juros só serão reduzidos no próximo ano. Por outro lado, se tiver alteração nas bandas ou na utilização do ano calendário para gerar uma convergência da inflação no ano calendário, poderíamos pensar em diminuição da Selic ainda em 2023.