O Banco Central jogou no colo do Congresso boa parte da responsabilidade sobre quando iniciará o corte do juro. O comunicado da decisão de manter a Selic em 13,75% - mesmo em meio a pressões - foi marcado por menções à importância da aprovação do arcabouço fiscal do governo federal, com as possíveis alterações que a proposta sofrerá. Entre as pressões inflacionárias, cita, em primeiro lugar, a incerteza quanto ao "desenho final" do projeto que busca uma regra para substituir o atual teto de gastos. A expectativa atual do Ministério da Fazenda é de que seja votado na segunda quinzena de maio.
O texto do Comitê de Política Monetária (Copom), porém, reconhece que a inflação deu uma boa aliviada, ao menos no curto prazo. Citou a queda nas commodities no mercado internacional, que vêm reduzindo dos alimentos aos combustíveis, passando até mesmo pelos aluguéis pelo IGP-M. Há ainda retração na economia global com estresses em bancos e restrição maior de crédito no mercado interno.
A frase da discórdia, que gerou manifestações fortes de ministros na reunião anterior, foi mantida, porém bem relativizada. O Banco Central seguiu dizendo que não hesitaria em retomar a alta de juro se a inflação não ficar baixa, mas acrescentou que é "um cenário menos provável".
Para fechar, chama a atenção da coluna que as entidades empresariais, nas tradicionais notas após a divulgação da decisão Copom, estão com posições bem diferentes. Enquanto algumas criticam e apontam que a postura da autoridade monetária trava a economia, como tem dito o presidente Lula, outras entendem que a inflação resiliente e a incerteza fiscal são bons motivos para cautela quanto à Selic.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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