O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates confirmou que a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, não está mais à venda. O anúncio foi feito após uma reunião na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre, nesta sexta-feira (26). A unidade gaúcha integrava uma lista de ativos destinados à privatização, dentro do plano de desinvestimento da estatal, instituído pela diretoria da companhia em junho de 2018, durante a gestão de Michel Temer
— A Refap não será vendida. Não é, em absoluto, um ativo colocado no mercado. É claro que esse processo todo de revisão ainda está em curso, porque temos um plano estratégico em andamento para o ano que vem e alguns ajustes precisam ser feitos — informou Prates
Segundo o executivo, a estatal tem diretrizes anunciadas ao mercado recentemente e uma delas é a retomada de investimentos para ampliação do refino nas unidades que já existentes.
— Há muito a fazer antes de pensar em construir uma refinaria nova. Antes, é preciso terminar as obras que temos de terminar, corrigir erros, mas percebemos que há muita capacidade de refino para extrair das mesmas instalações que já temos. Uma delas é a Refap — acrescentou sem antecipar o nível de investimento previsto na unidade gaúcha.
A Refap foi a primeira refinaria visitada pelo presidente da Petrobras que assumiu com o governo Lula.
Ele explicou a escolha pelas dificuldades recentes na empresa que responde por 12% de toda a arrecadação de ICMS do Rio Grande do Sul. Segundo ele, o período marcado pela maior paralisação das atividades da história da refinaria no início deste ano é consequência de uma "desaceleração de investimentos" fundamentais para a atividade.
— É o maior CNPJ do RS e sozinha responde por um terço das receitas de Canoas. Só a refinaria já é a maior empresa gaúcha e é importante que ela se atualize.
Planejamento para produção de novos combustíveis
O diretor de processo da Petrobras, William França lembra que a empresa foi ampliada até 2016. Saiu de 27 mil metros cúbicos pra 33 mil metros cúbicos diários de capacidade de processamento de petróleo. Agora, a ideia é substituir o refino do diesel S-500 (mais poluente, em razão das partículas de enxofre) que deixará de ser comercializado em breve pelo diesel S-10, já refinado em Canoas, mas que deverá absorver a totalidade da capacidade de produção.
— A ideia é que se concentre toda a produção, de cerca de 100 mil barris por dia de diesel no S-10. O prazo inicial é de cinco anos, mas queremos fazer isso até 2026 — comenta.
De acordo com Prates, a Refap também entrará para o seleto grupo das biorrefinarias. Isso porque, até março do próximo ano, o planejamento indica que passe a processar o chamado diesel R5. O combustível sairia da refinaria com cerca de 95% de diesel mineral (derivado do petróleo) e 5% de diesel renovável, muito menos poluente.
A Petrobras planeja expandir essa modalidade para mais duas refinarias no Sudeste e, futuramente, ter uma unidade dedicada ao processamento da matéria-prima renovável. Os investimentos, até 2026, são estimados em US$ 600 milhões.
Prates pretende lançar plano indutor para indústria naval
Antes do anúncio que envolvia a Refap, na reunião com o presidente da Fiergs, Gilberto Petry, um dos assuntos foi a reativação da indústria naval do Rio Grande do Sul, que já foi um dos polos nacionais deste segmento. Para se ter uma ideia, em 2010, o setor gerava 34,5 mil empregos no país, 1,2 mil no RS e 778 no Porto de Rio Grande. Um ano depois em 2011, as oportunidades aumentaram em quase 150%, bateram em 2.895 postos de trabalho no RS, dentre os quais 2.387 estavam no terminal portuário gaúcho, o que equivale a 85% do total.
No ano seguinte, em 2012, o setor já contabilizava 7.171 funcionários no Estado e 6.695 deles estavam lotados em Rio Grande. O apogeu viria em 2015 com 8.585 postos de trabalho: 7.190 no município. Em 2016, ano do encerramento abrupto dos contratos com a Petrobrás, eram 8.355 empregos no RS e 5.486 na cidade.
Mas em 2017 e 2018 essa indústria sumiu, em decorrência de desdobramentos da Operação Lava-Jato que determinaram a falência da Sete Brasil, um dos braços da Petrobras afetados pelas investigações de corrupção. Na ocasião foram cancelados contratos e empresas entraram em processo de falência.
Agora, segundo o presidente da Petrobras, a ideia é apresentar um plano indutor para revitalizar o potencial, sobretudo, de contratação de mão de obra. Segundo ele, a estatal não pode fazer esse “resgate sozinha”, mas destaca que existem alternativas. Uma delas, é o descomissionamento de plataformas. Trata-se do desmanche dessas estruturas metálicas para reutilizar os materiais em outras indústrias.
Trata-se de uma operação inédita para os estaleiros nacionais, antes, realizada em países como Índia e Paquistão, e que tem cerca de R$ 5 bilhões carimbados pelo Plano Estratégico da Petrobras nos próximos quatro anos. Uma fatia desses contratos poderia ficar no Estado.
— Mas existe um detalhe. É que as importações dessas plataformas são temporárias, e algumas foram admitidas aqui e isso precisa ser corrigido via legislação. Ou seja, é preciso permitir que as embarcações ingressem no país sem impostos e as que já entraram não tenham de recolher tributos retroativos. É uma exceção que me parece bem razoável, tendo em vista a capacidade de geração de empregos — argumenta.
Também fazem parte das estratégias de médio prazo da estatal petrolífera a construção de 26 plataformas, com destinação de US$ 9,8 bilhões. Seriam três novos navios a cada 12 meses, o que formaria um mercado de R$ 3,2 bilhões anuais no país. Por regra, entre 30% e 40% dessas contratações precisam de conteúdo local, o que coloca o estaleiro de Rio Grande outra vez no páreo.
— Estamos realizando o mapeamento de um setor desmontado para saber o que pode ser recuperado. É como se reencontrássemos um amigo de velha data que há tempos não víamos — acrescenta Prates.