Em meio às polêmicas das últimas semanas envolvendo críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à taxa de juros e questionamentos a respeito da independência do Banco Central, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, participou do programa Roda Viva na noite desta segunda-feira (13).
Indicado pelo até então presidente Jair Bolsonaro (PL), o economista, que assumiu a presidência da instituição em 2019 e seguiu à frente do BC após a instituição da autonomia, é defensor deste novo status do Banco Central.
Questionado pela jornalista Vera Magalhães se o uso de uma camiseta da seleção brasileira no dia da eleição presidencial não poderia representar uma politização na gestão do BC, o presidente disse que o país vive um momento polarizado.
— Precisamos diferenciar a proximidade com algumas pessoas da independência do BC — ponderou.
Questionado novamente pelo jornalista Alex Ribeiro, do Valor Econômico, Neto reiterou que não misturou a gestão da instituição com política e que tentou blindá-la.
— Nunca participei de nenhum ato, nunca fiz campanha política, não tenho redes sociais. Durante a campanha houve uma tentativa de politizar o pix. Eu tentei isolar o Banco Central de todas as formas — disse Neto.
O presidente do BC destacou a legitimidade da eleição e que a instituição necessita estar próxima sempre do governo:
— É importante reconhecer a legitimidade da eleição do presidente Lula, de forma democrática. O Banco Central é uma instituição de Estado, precisa trabalhar com o governo sempre — frisou.
Mudança de metas
Campos Neto também disse que o BC não apoia a mudança de metas de inflação pois a alteração teria impacto negativo.
— Acho que se a gente fizer uma mudança agora, sem ter ambiente de tranquilidade e ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter efeito contrário ao desejado — afirmou.
Ele também negou que tenha participado de reunião com Lula e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na qual tenha dito que aumentar a meta seja solução. Ele também negou que tenha apresentado esta mesma proposta ao ex-ministro Paulo Guedes em reunião ocorrida em julho de 2022.
— A gente pensava um pouco sobre qual era a realidade do Brasil à frente, se o mundo fosse voltar a viver num período inflacionário. Em relação a simplesmente propor ao governo um aumento de meta, não. O que eu disse, em algum momento, é que se houver algum desejo de falar sobre meta, que o Banco Central tenha algum estudo de aprimoramento da meta, que geraria um ganho de eficiência em cima da meta — afirmou.
"O Banco Central não gosta de juros altos. A nossa agenda toda é social. A gente acredita que é possível fazer fiscal junto com bem-estar social, mas é difícil ter bem-estar social com inflação descontrolada".
ROBERTO CAMPOS NETO
Presidente do Banco central
Questionado sobre as críticas recebidas do governo em relação aos juros elevados, Campos Neto destacou que para o funcionamento da agenda social é preciso controlar a inflação.
— O Banco Central não gosta de juros altos. A nossa agenda toda é social. A gente acredita que é possível fazer fiscal junto com bem-estar social, mas é difícil ter bem-estar social com inflação descontrolada — disse o presidente.
Perguntado se atenderia à orientação aprovada pelo PT nesta segunda-feira para que ele seja chamado ao Congresso para explicar a política monetária adotada pelo Banco Central, o presidente disse que irá quantas vezes for necessário pois este é o "seu trabalho".
— Eu acho que minha função é explicar, eu acho que esse debate de juros é muito válido. Eu vou explicar quantas vezes for necessário. É importante falar sobre o tema de juros. O juro no Brasil é alto? É alto, e essa é uma questão legítima para a sociedade. Estou disposto a explicar quantas vezes forem necessárias.
Campos Neto diz que tem relacionamento com diversos políticos, entre os quais está Gilberto Kassab, mas garante que não pretende ingressar novamente na política após o fim de seu mandato à frente do BC, em 2024.