O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (30), em São Paulo, que as obras do gasoduto de Vaca Muerta, na Argentina, não deverão precisar de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
— Acho que, em alguns casos específicos, como é o caso do potássio e como é o caso do gás argentino, faz sentido pensarmos em parcerias que somem pelos dois países sem criar nenhum tipo de conflito, até porque são projetos sustentáveis do ponto de vista econômico e que eventualmente nem devem precisar de financiamento público. Acho que Vaca Muerta mesmo é um projeto que talvez dispense esse tipo de financiamento — disse o ministro, que participou, nesta segunda, de uma reunião com diretores da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp).
Haddad diz já ter conversado com o setor químico e, assim, concluído que não deverá faltar demanda para o gás argentino.
— Com a queda da produção de gás da Bolívia, não vai faltar demanda de gás no Brasil, mesmo que a gente não desperdice mais o gás do pré-sal — declarou.
Vaca Muerta
A construção do gasoduto entre as reservas de gás xisto da reserva de Vaca Muerta até o Brasil foi tema de discussão entre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em encontro ocorrido neste mês em Buenos Aires. Após o encontro, Lula comentou sobre a possibilidade do BNDES financiar obras desse projeto.
— De vez em quando, no Brasil, somos criticados por pura ignorância, pessoas que acham que não pode haver financiamento de engenharia para outros países. Acho que não só se pode como é necessário o Brasil ajudar todos os seus parceiros. E é isso que vamos fazer dentro das possibilidades econômicas do nosso país. O BNDES é muito grande — relatou o presidente.
Na ocasião, Lula ressaltou, no entanto, que acredita no interesse de empresários brasileiros por essa obra.
— Se há interesse dos empresários, do governo, e temos um banco de desenvolvimento para isso, eu quero dizer que vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente tiver que fazer para ajudar ao gasoduto argentino — completou.
O projeto de construção de Vaca Muerta tem sido alvo de ambientalistas, que afirmam que a obra terá alto impacto ambiental. Segundo eles, o gás natural é um combustível fóssil que apresenta alto potencial de aquecimento climático e já foi banido em diversos países do mundo.
"O método para obtenção de gás de xisto é internacionalmente reconhecido por altos riscos e fortes impactos ambientais. Consiste em processo de extração de gás por meio de fragmentação de rochas para liberação dos hidrocarbonetos, provocando a contaminação dos aquíferos, sendo, portanto, alternativa de extração de gás ambientalmente inadequada e já banida em países mais progressistas”, diz documento encaminhado ao BNDES e para ministros do governo Lula.
Aos diretores da Fiesp, Haddad admitiu que essa questão ambiental não pode ser deixada de lado.
— Tem uma discussão ambiental que não deve ser desconsiderada sobre a utilização de gás de xisto, mas pelos relatos que recebi, os norte-americanos resolveram de uma maneira diferente do resto do mundo e com preocupação ambiental — pontuou.