Pelo terceiro mês consecutivo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o mês de setembro em queda na região metropolitana de Porto Alegre. A variação de preços foi de -0,46%. No acumulado de 12 meses, o IPCA tem alta de 4,85% na região. No ano, a alta foi de 1,83%.
Foi a segunda maior queda de preços entre as regiões pesquisadas, atrás apenas de Fortaleza (-0,65%).
No país, a variação do IPCA foi de -0,29% em setembro, também o terceiro mês seguido de deflação e o menor resultado para setembro desde o início da série histórica. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11).
Dentre os nove grupos avaliados pelo índice, quatro apresentaram deflação na Grande Porto Alegre: transportes (-2,11%) e comunicação (-1,96%), alimentação e bebidas (-0,61%) e artigos de residência (-0,3%).
Ciclo de quedas nos combustíveis pode estar no fim
Em transportes, grupo com a queda mais acentuada no mês, o resultado mais uma vez foi influenciado pela redução de preços dos combustíveis, em especial da gasolina. Na Grande Porto Alegre, o custo do litro da gasolina teve retração de 9,04% no mês, e o diesel de 4,71%.
Entre os fatores que refletiram no recuo, o gerente responsável pelo levantamento do IBGE, Pedro Kislanov, lembra que a Petrobras reduziu o valor da gasolina nas refinarias em R$ 0,25 no começo de setembro, e que também houve quedas no etanol e no GNV.
Mas o papel destacado dos combustíveis na taxa negativa do IPCA não deve se manter nos próximos meses. Conforme explica o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), com os efeitos do teto de ICMS e das últimas quedas promovidas pela Petrobras se distanciando, e pelo contexto internacional de redução de oferta de petróleo pela Opep e guerra entre Rússia e Ucrânia se agravando, não haverá brecha para novas quedas no preço da gasolina:
— Muito pelo contrário. A tendência agora pode ser de alta e isso faz com que o próximo IPCA de outubro venha completamente diferente dos últimos três meses. Acho que podemos nos despedir desse ciclo de inflação negativa — avalia Braz.
Leite puxa queda nos alimentos e bebidas
Já o grupo de alimentação e bebidas foi influenciado principalmente pela queda no preço do leite, que vinha em crescente desde o começo do ano, mas passou a cair em agosto. Em setembro mostrou queda ainda mais acentuada. O valor da bebida recuou 17,94% na Região Metropolitana.
— Quando a alimentação fica negativa, é uma boa notícia para as famílias de baixa renda — diz o economista da FGV.
No grupo comunicação, Kislanov destaca o comportamento de preços dos planos de acesso à internet e dos combos de telefonia, internet e TV por assinatura. Os pacotes tiveram queda em reflexo à sanção de lei complementar que reduziu a alíquota máxima de ICMS nesse segmento.
Entre as altas, o grupo vestuário foi o que teve a maior variação positiva do IPCA em setembro na Região Metropolitana, de 1,34%, também em linha com o desempenho nacional (1,77%). Outro destaque de alta foi o grupo saúde e cuidados pessoais, que subiu 0,72% no mês.
Processo inflacionário
Apesar da deflação na taxa geral de setembro e do alívio em produtos essenciais como alimentos, o economista André Braz atenta para o chamado índice de difusão da inflação. O levantamento do IBGE mostra que 62% dos produtos e serviços que compõe o IPCA subiram de preço no mês.
Serviços ligados ao turismo, por exemplo, como passagem aérea, hotelaria e excursão pesaram mais no bolso dos brasileiros em setembro. Outros serviços ligados ao dia a dia das famílias também seguem pressionando a inflação, o que requer atenção, segundo o economista.
— Vimos que a inflação está bem espalhada. O Banco Central precisa ficar atento ao processo inflacionário porque ele está presente e pode se agravar em função do futuro da guerra, da aproximação do inverno europeu, que torna tudo mais difícil naquele continente, e que pode trazer reflexos para a inflação brasileira — avalia Braz.
Esse contexto internacional pode trazer uma persistência na pressão sobre os preços, sobretudo em função da alta do petróleo e da repercussão que esse produto provoca em toda a cadeia produtiva.