Em um cenário com expectativa de arrefecimento da inflação e preocupação com equilíbrio fiscal do país, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anuncia, nesta quarta-feira (3), decisão sobre o juro básico. Parte do mercado estima novo aumento da Selic e o fim do ciclo de elevações, iniciado na arrancada do ano passado. Existe praticamente um consenso entre os analistas de acréscimo de 0,50 ponto percentual na Selic. Caso isso se confirme, a taxa passaria dos atuais 13,25% para 13,75% ao ano. Esse nível elevado do juro deve durar até pelo menos o primeiro trimestre do próximo ano, segundo especialistas.
Mesmo com análises que indicam o fim da sequência de altas, o aceno do Copom sobre fechamento ou não dessa porta ocorrerá na ata, que é divulgada após o fim da reunião.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, afirma que a inflação, além da queda no curto prazo, já contava com tendência de desaceleração. Com isso, o remédio adotado pelo Copom contra a alta de preços atinge a dosagem necessária, segundo o economista. Perfeito avalia que existe espaço para aumento de 0,25 ponto percentual, mas entende que o colegiado deve seguir com a elevação de 0,50.
— Então, digamos assim, a missão já está cumprida no caso da taxa de juro. Não precisa subir muito mais. Só essa perspectiva já cria essa leitura de fim de ciclo — pontua o economista-chefe da Necton.
Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acelerou 0,67%. No ano, o IPCA acumula alta de 5,49% e, nos últimos 12 meses, de 11,89%. No entanto, diante de alguns fatores, como redução no preço de gasolina e energia elétrica, a expectativa é de deflação em julho, como apontou a prévia de inflação.
O economista Marcos Lélis, professor da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, também estima que o eventual novo aumento da Selic deve encerrar o atual ciclo de elevações. Lélis estima manutenção desse percentual nos próximos meses e retração menos veloz em 2023. Isso ocorre porque alguns dos fatores que freiam a inflação no curto prazo podem perder a validade na virada do ano, segundo o professor:
— A gente já está vendo para o ano que vem, provavelmente, uma velocidade menor na queda do juro. Isso acontece porque alguns preços represados neste ano podem ser transferidos para 2023. Tem um movimento claro de que a queda no juro no ano que vem será mais suave.
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, afirma que outro ponto que cria ambiente para o fim do ciclo de altas é a responsabilidade do BC em fomentar a economia do país.
— O Banco Central tem como prioridade controlar a inflação, mas agora ele também tem que olhar o fomento à atividade econômica. Não pode deixar desacelerar tanto a economia, porque isso agora também é responsabilidade da instituição.
Agostini estima que a taxa Selic deve seguir em 13,75% até pelo menos o final do primeiro trimestre de 2023. A estimativa de atividade econômica fraca cria ambiente que afasta a possibilidade de novas altas no próximo ano, segundo o economista
O economista Fábio Astrauskas, diretor na Siegen Consultoria, afirma que não existe um consenso sobre o fim da trajetória de alta no juro básico, mas avalia que esse movimento deve ocorrer nesta quarta-feira:
— Nos próximos dias, deve ser divulgado o IPCA de julho, que virá com deflação. Então, é muito provável que esse movimento de queda, de contenção na inflação, ainda que temporário, encerre esse ciclo de alta.
A Selic é o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle. O aumento da taxa desestimula o consumo. No entanto, a eficácia desse remédio perde um pouco de força diante de uma inflação que ocorre mais pelo lado da oferta do que da demanda.
Principais pontos da projeção
“Mais importante que a decisão de subida do juro vai ser o comunicado, que vai organizar justamente a ideia de que parou a alta na Selic”
“A desaceleração da economia no próximo ano poderia ajudar em uma queda mais rápida do juro desde que o aumento da taxa ocorresse por causa da demanda. Como isso ocorre pelo choque de oferta, não ajuda muito”
“Não adianta ficar subindo o juro fortemente por um prazo indefinido, porque o problema não está no consumo, mas sim na oferta. Acho que o Banco Central já entendeu isso e provavelmente vai interromper esse ciclo de alta”
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“Dado esse cenário de atividade econômica fraca para 2023, é possível que o Banco Central não eleve mais a taxa. Mas é possível que a Selic fique em 13,75% pelo menos até o final do primeiro trimestre do ano que vem”