Empresas buscando matérias-primas sustentáveis e fazendo a roda girar. Essa é uma das principais marcas da 26ª edição da Inspiramais, que começou nesta terça-feira (19), em Porto Alegre. Com corredores lotados desde as primeiras horas, a feira reúne o que há de mais tecnológico na produção de componentes que abastecem as indústrias calçadista, moveleira, de confecção e de bijuterias.
Fios de polímeros sintéticos derivados de açúcares da cana e da beterraba, fibras de coco natural ou fios de PET feitos de excedentes de outras indústrias são apenas alguns exemplos de que quase tudo pode ser reaproveitado na cadeia produtiva. As possibilidades são enormes no universo da reutilização e servem de base para fabricação de itens como acessórios, bolsas, sapatos e até móveis – todos carregados de design.
Não por acaso, o espaço na feira que reúne as inovações vindas das matérias-primas mais improváveis é um dos mais procurados pelo público. Destacando materiais sustentáveis, o Espaço Sustentabilidade apresenta soluções inovadoras de 17 empresas.
Curadora do estande, Flávia Vanelli observa que, depois do período mais crítico da pandemia, o mundo entendeu que a sustentabilidade é um caminho sem volta.
– Todo mundo está querendo ver coisas novas e temos muito frescor aqui. Algumas soluções ainda não têm escala, mas estamos justamente buscando investimento e mostrando que é possível. A ideia é criar essas conexões. Tecnologia tem, o que falta é infraestrutura – diz Flávia.
Algumas ideias apresentadas no estande ainda são protótipos. É o caso das biojoias da Cezário Design e Moda Circular. A marca cria acessórios com escamas e resíduos de redes retiradas das praias por artesãos de Tambaba, na Paraíba. Os produtos viram acessórios como colares e são criados em parceria com a marca mineira Cerradouro.
Muito além da preocupação com o meio ambiente, a sustentabilidade neste projeto tem um objetivo social. Um dos responsáveis pela ideia, Rodrigo Cezário conta que os artesãos da região confeccionavam bijuterias com peças baratas, o que gerava desvalorização do produto.
– Identificamos recursos para agregar valor e encontramos os resíduos das redes, que poluem as praias. Fizemos um trabalho de ressignificação do material, aplicamos as escamas que seriam descartadas, polimos e fazemos uma metalização com banho de cobre – explica Cezário sobre o processo.
O resultado é uma sustentabilidade que também é econômica e social:
– Temos que pensar para além do impacto no meio ambiente, mas para a inclusão de pessoas. É um fator que precisamos olhar dentro dos negócios – acrescenta o idealizador.
Já produzindo em larga escala, uma das empresas que traz aplica a tecnologia sustentável é a fabricante têxtil Bertex, de Novo Hamburgo. A companhia é uma das poucas que possui certificação ouro no programa Origem Sustentável, o único certificado de sustentabilidade e ESG (sigla em inglês para Environmental, Social e Governance; ou, em português, Ambiental, Social e Governança) da cadeia calçadista. O foco são os calçados, mas as tecnologias estão disponíveis para qualquer segmento.
– Tentamos trazer todos os insumos disponíveis nessa pegada sustável e aplicar nas tecnologias que já temos, como buscar um fio reciclado, de uma origem renovável. Somos muito fortes na utilização de matérias-primas de origem natural, como juta e cortiça – diz Alexandre Sidegum, diretor de operações da Bertex, que abastece outras indústrias que transformam a matéria-prima.
Design de ponta
O design é também um dos termos principais do evento. O estilista Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design da Inspiramais, diz que há uma mudança significativa na cadeia produtiva a partir do momento em que o design passa a ser considerado no processo. Esse ponto, aliás, é o que torna o Brasil uma referência mundial na moda – e aqui estão inclusos de móveis a calçados.
– A moda está no nosso dia a dia. Aqui estão materiais que estão sendo preparados há um semestre com estudos para a indústria. O Brasil está na frente em termos de sustentabilidade – destacou Silvana Dilly, superintendente da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), na coletiva de abertura da feira.
Gerson Luis Berwanger, presidente da Assintecal, mencionou o posto de destaque ocupado pelo Brasil, sendo um dos maiores exportadores mundiais de calçados. As vendas ao Exterior este ano já são 20% superiores ao mesmo período do ano passado.
– O mercado asiático deu uma freada e somos hoje segundo cluster mundial. Aqui nesse salão vamos encontrar muita moda, inovação e tecnologia – disse Berwanger.
A mostra está sendo realizada no centro de eventos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e vai até esta quarta-feira (20). A entrada é gratuita.
O evento é promovido pela Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e conta com a parceria do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e da Associação Brasileira da Indústria de Mobiliário (Abimóvel). Cerca de 150 expositores apresentam lançamentos nos estandes da feira.