No ano passado, a Lojas Renner liderou o índice de sustentabilidade da B3, a bolsa de valores do Brasil. Neste, chegou no topo do setor de varejo em um dos mais ambicionados do planeta, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI, na sigla em inglês). Para dar uma ideia do tamanho da conquista, "roubou" a posição do japonês Marui Group, e também superou a Inditex, da conhecida Zara, que teve a segunda maior pontuação em 2020. Para lembrar, o Dow Jones Industrial é o índice mais tradicional da bolsa de Nova York, e seu "irmão" ambiental tem o peso dessa credibilidade. Inclui apenas empresas com ações negociadas em bolsa, não necessariamente em Wall Street. Fabio Faccio (foto), CEO da Renner, disse à coluna que o primeiro lugar global é fruto de um trabalho de longo tempo, baseado em crenças da empresa e de foco nas melhores referências em aplicação dos conceitos de governança corporativa, social e ambiental (ESG).
Como a Renner chegou ao topo do índice global de sustentabilidade com a chancela da Dow Jones?
É um tema importante para nós há muitos anos, está nos nossos princípios e valores. Faz parte da história da empresa, que é uma corporação (empresa de capital aberto sem controlador definido) desde 2005. É a sétima vez em que aparecemos nesse índice. Nesse tempo, fomos construindo uma trajetória, fazendo benchmarking (estudando as melhores práticas), vendo como podemos fazer melhor. Agora, pra nossa felicidade, uma empresa gaúcha e brasileira é a melhor varejista em sustentabilidade do mundo.
Houve algo, de um ano para outro, que tivesse feito a diferença para alcançar a maior pontuação?
Nesse último ano, é difícil de falar. É mais um acúmulo de diversas iniciativas. Tivemos crescimento de 15 pontos em relação ao ano passado, quando já tínhamos uma boa pontuação. Um dos nossos pontos fortes é a certificação de toda nossa cadeia de suprimentos, com informações públicas, que é parte da nossa responsabilidade social. A Renner assumiu compromissos públicos em 2018 e, neste ano, está alcançando todas as metas sociais e ambientais. Um desses objetivos era ter 100% dos fornecedores com certificado socioambiental, e antecipamos o alcance dessa meta.
Se a Renner buscou referências para chegar ao topo, agora é uma. Isso traz mais responsabilidade, para ser um exemplo?
Sem dúvida. Também temos um trabalho com o Sebrae com programas de capacitação e educação, não só de fornecedores diretos, mas do que chamamos de "segundo elo" da cadeia. Estamos chegando mais longe e participando de fóruns com outras empresas que possam fazer o mesmo. Isso começa a criar exemplos para que mais empresas façam a diferença.
Esse destaque vem dias depois que nos chocamos com pilhas de roupas no deserto do Atacama, atribuídas ao modelo fast fashion em que a Renner atua. O que a rede faz para mudar essa realidade?
Atuamos de forma diferente. Usamos dados e pesquisas para não produzir em excesso. Só produzimos conforme a demanda do cliente. Evitamos produzir muito e remarcar, ou descartar. Temos estoque mais justo e mais assertivo. Além disso, buscamos produzir da melhor forma, para usar o máximo possível da matéria-prima e evitar desperdícios e temos várias iniciativas de reuso e reciclagem. Temos coleções feitas com reciclagem de jeans e de malhas, que dá nova vida aos produtos. Além disso, acabamos de concluir a compra da Repassa, que é mais uma chance de dar nova vida ao produto de moda. Isso tem tudo a ver com sustentabilidade.
Qual a atual proporção de produção nacional e de importação da Renner?
Produzimos no Brasil cerca de 70%, importamos ao redor de 30%, embora parte da matéria-prima venha de fora. O Brasil tem uma cadeia forte em malha e jeans.
Nestes tempos em que muitas empresas usam conceitos como ESG e net zero como marketing, qual a credibilidade das iniciativas de sustentabilidade?
Um dos aspectos que levou ao primeiro lugar global no DJSI é o fato de auditar tudo o que a gente fez. Tudo está certificado. Em carbono, temos compromisso público de reduzir nossa emissão em relação à que tínhamos em 2017. E conseguimos entregar a redução com a qual nos comprometemos. Além disso, neutralizamos nossas emissões desde 2016, financiando projetos de reflorestamento. Então, fazemos as duas coisas, neutralizamos e reduzimos as emissões.
Por outro lado, há empresários que ainda consideram "perfumaria" e até "terrorismo" as pressões para melhorar a atuação social e ambiental. Como convencê-los de que é uma tendência sem volta?
Nós administramos uma empresa sem controlador, que portanto é de muita gente. Temos cerca de 140 mil acionistas. Então, transparência é uma condição para a nossa atividade. É um dever. E está lá, nos nossos princípios, "encantar a todos". Então, temos de atender aos acionistas e à comunidade. Se a empresa parar de fazer sentido para alguém, acaba. Além disso, existe hoje tecnologia que permite impacto menor com melhores resultados financeiros a longo prazo. A sustentabilidade também tem um pilar financeiro. Por exemplo, energias renováveis, há 10 anos, eram muito caras. Agora, estão mais baratas. Hoje, tem benefícios inclusive econômicos em relação às mais poluentes.