A imposição de um pensamento globalizado, que traz a ideia de uma visão moral em torno de uma verdade única, está entre os motivos que levam à polarização do mundo atual. A premissa foi levantada durante debate no 35º Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, que discute temas relacionados ao liberalismo econômico e político.
Instigados a questionar se “Guerras Culturais são a Nova Guerra Fria?”, três convidados discutiram a polarização social e cultural como consequências da globalização.
Na opinião de Melissa Chen, editora e colaboradora da revista britânica The Spectator, a Guerra Fria que conhecíamos está sendo recriada por meio de um conflito cultural que engloba o mundo todo, e, portanto, é um desafio ainda maior para se enfrentar.
Segundo ela, havendo uma opinião universalizada, quem não quer estar do lado "correto" passa a ser tachado de inimigo ou culpado. O preço disso, diz, é que as pessoas preferem se ausentar dos debates para evitar possíveis represálias por explanarem opiniões contrárias.
— As pessoas, hoje, não apenas discordam, elas julgam que você é mau. Quando ficamos desligados e não queremos dividir o palco é quando a polarização ganha força. As pessoas estão evitando dividir o espaço com quem discordam — diz Melissa.
Para o doutor em Ciência Política e Relações Internacionais João Pereira Coutinho, as opiniões contrárias, nesse contexto, passam a ofender. Nisso, abalam conceitos básicos de uma sociedade, como a tolerância e o respeito.
— Só é possível encontrar verdade quando o espaço permite o confronto de ideias — defendeu o cientista político no painel.
Na visão de Stephen Hicks, professor de Filosofia na Rockford University e onde dirige o Center for Ethics and Entrepreneurship, há uma guerra cultural que passa também pela academia, com imposição de ideias que lideram o debate. Nessa “nova Guerra Fria”, portanto, o inimigo está dentro das instituições, presente entre os intelectuais, e não apenas no “estrangeiro”.
Para o professor, o questionamento a partir de pensamentos novos e de uma filosofia apurada são as únicas maneiras de enfrentar uma imposição intelectual nesse sentido.
— Os jovens que são inteligentes e que querem fazer algo de suas vidas, quando vão para a universidade, buscam algo, e muito da mudança virá disso, de se ir além e de questionar se o que está sendo dito vale a pena — diz Hicks.