Qual o sentido de poder falar se não estamos dispostos a ouvir? Com esse mote, o Fórum da Liberdade deu a largada nos debates da 35ª edição do evento, iniciada nesta segunda-feira (11), em Porto Alegre. As conferências voltaram ao palco do Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), após dois anos de edições somente online.
Com plateia cheia, o painel Autoritarismo e Liberdade de Expressão abriu as discussões da tarde, trazendo para o debate a importância dos diálogos construtivos, com espaço às opiniões divergentes. Uma “discordância civilizada”, sem bandeiras com rótulos de esquerda ou de direita, foi levantada como necessidade para o desenvolvimento de novas ideias.
Em participação online projetada no telão da arena, Tom Palmer, vice-presidente de Programas Internacionais da Atlas Network, criticou governos que, por meio de estados totalitários, limitam a liberdade de expressão, restringem a imprensa e limitam sua capacidade de informar.
— No relativismo pós-moderno, os estados autoritários passam para estados totalitários. Não há verdade, não há distinção entre verdades e mentiras, apenas alegações — afirmou Palmer.
O teórico norte-americano ainda manifestou descontentamento com líderes que enaltecem figuras de períodos ditatoriais, em especial no caso do Brasil, onde políticos homenageiam torturadores.
Roberto Salinas, presidente do Fórum Empresarial do México, falou da importância de se criar uma sociedade “flexível” e “aberta”, que supere os desafios da discordância. Para isso, defende, é preciso considerar as consequências de rotular as ideias conforme pensamentos ou movimentos que defendem.
— Se tu és de direita, é automaticamente liberal, não precisamos mais discutir. O mesmo com os rótulos de esquerda radical — criticou.
Salinas acredita que, sem senso de propósito, há o risco de vermos o tipo de relativismo que permite o crescimento de políticos autoritários. Um ambiente sem possibilidade de conversa cria um sentimento de que quem discorda de um governo é inimigo da nação, diz.
— Se você diz algo contra o partido governante, você não apenas está falando algo falso, você está traindo a nação. Não há possibilidade de conversa, de dissidência, de discordância, de falar com o outro, o que requer um senso de diálogo, termo que vem de dialética, uma conversação que eleva o intelecto para outro nível através da discordância — defendeu.
Paulo Roberto de Almeida, doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico e diplomata, endossou o debate citando os casos de manipulações pelas mídias, como a veiculação de fake news por meio de portais e canais ditos informativos. De acordo com o estudioso, as notícias falsas são uma forma de distorcer o direito de expressão.
— No Brasil, temos direito de discordar, mas existe uma manipulação de alguns meios de comunicação. As fake news são uma forma de se opor, de transmitir o pensamento do candidato autocrata — afirmou.
Almeida reforçou a crítica de Tom Palmer às lideranças que se vangloriam de personagens da ditadura militar. O cientista político citou o período em que ficou sete anos no exílio. E mesmo de volta ao país, contou, não pôde exercer sua liberdade e precisou adotar outros nomes para continuar escrevendo.