Metade da população gaúcha sentiu os impactos da pandemia no trabalho. Entre os afetados, 61% tiveram dano financeiro, e quase 25% perderam o emprego. Apenas um em cada cinco gaúchos atuou em função compatível com o home office.
Os dados são resultado de uma pesquisa encomendada pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O levantamento foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO) e terá os detalhes divulgados nesta segunda-feira (20).
— A pandemia impactou o trabalho de todos os segmentos sociais, em especial, da população com menor renda. Os menos qualificados e com menores salários foram os mais afetados com a perda do emprego e estão muito preocupados com o futuro, pois têm enormes dificuldades em lidar com as novas tecnologias. Os governantes têm o desafio de preparar essa parcela para um novo emprego — resume a cientista política Elis Radmann, diretora do IPO.
Para chegar aos resultados, o instituto entrevistou 1,5 mil pessoas presencialmente, entre 8 a 12 de dezembro. A escolha dos entrevistados levou em consideração nove regiões diferentes do Estado, bem como sexo, idade e situação do trabalho. A margem de erro é de três pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.
A pesquisa mostrou que as mais afetadas foram as mulheres (51%) entre 35 e 44 anos (62,8%), com curso superior (55,2%) e com renda entre três e cinco salários mínimos (52,7%).
Conforme o estudo, entre os que sentiram os efeitos da pandemia no trabalho, o impacto específico de maior abrangência foi a diminuição da renda ou da carga horária, sofrida por 39,4%. A perda do emprego (24,9%) e as restrições ou impossibilidade de trabalhar (15,5%) também atingiram índices consideráveis. Nesse público, apenas 9,3% atuou em home office e 4,9% disseram não ter conseguido manter o próprio negócio.
Do universo pesquisado, 58,2% não atuaram em atividade compatível com trabalho remoto. Apenas 20,7% conseguiram fazer home office; já para 3,5%, parte do trabalho era possível de ser executado de casa e outra parte, não.
Os índices de maior compatibilidade com o trabalho remoto foram registrados na Região Metropolitana (24,3%), Passo Fundo (24%) e Porto Alegre (22,4%). Em compensação, na região de Santa Cruz do Sul, 62,9% disseram ser impossível trabalhar de casa.
Quanto maior a escolaridade e a renda, maior a possibilidade do home office. Trabalhadores com curso superior (37,5%) e com vencimentos superiores a seis salários mínimos (34,8%) são preponderantes nesse universo.
Em geral, quem conseguiu trabalhar de casa gostou. Nada menos do que 70,2% consideram a experiência positiva, ante 22,9% que desaprovaram. A praticidade e ganhos sem deslocamento (25,9%) lideraram os benefícios do home office. O ganho de tempo com a família (19,6%) e o aumento da produtividade (14,4%) também se destacaram nas respostas.
Por outro lado, a necessidade de um contato mais próximo (27,7%) e o isolamento e a mudança na rotina (24%) foram citados como aspectos negativos. Ao menos 18% disseram ter sofrido danos financeiros trabalhando de casa.
A vacinação contra a covid-19 tem respaldo em ampla maioria dos entrevistados. Enquanto 82,9% concordam com a exigência de imunização entre os funcionários das empresas, apenas 11,6% discordam.
A pesquisa mostra ainda pessimismo com a economia do país: 78,9% acreditam que a inflação vai aumentar, e 50,8% dizem que o desemprego irá piorar. Para 64,6% dos entrevistados, a escassez do desemprego é vinculada à situação do Brasil. Só 8,2% creditam o problema à própria cidade e 6,1% ao Estado.
A ideia de estudar mais a fundo os reflexos da pandemia sobre o mercado de trabalho gaúcho surgiu em novembro, após um seminário na Assembleia reunir especialistas no tema como o professor de Economia da USP José Paulo Chahad e os desembargadores Luiz Eduardo Gunther e Magda Biavaschi. O objetivo é compreender o fenômeno e buscar subsídios para criação de novas leis que possam atender as dinâmicas e demandas da sociedade.