A busca pelo gás natural veicular (GNV), uma das principais alternativas à gasolina, cresceu neste ano no Rio Grande do Sul. O total de adaptações de veículos para GNV aumentou 38,60% nos nove primeiros meses de 2021 no Estado ante o mesmo período do ano passado. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS).
De janeiro a setembro, foram realizadas 5,19 mil alterações para GNV no Estado – 1,45 mil a mais em relação ao mesmo intervalo de tempo de 2020. O preço elevado da gasolina diante de reajustes constantes, o desemprego e o aumento de trabalhadores buscando renda por meio de aplicativos de transporte ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.
Dados da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) também mostram crescimento na frota de veículos com GNV no Estado. Em agosto deste ano, 89.024 automóveis trafegavam com esse tipo de combustível, 38,75% a mais do que há cinco anos.
Economia segue atraindo novos adeptos
Coordenador do segmento veicular da Sulgás, Marcelo Bastos afirma que o principal fator que contribui para o aumento na busca pelo GNV continua sendo a economia.
— Sempre que tem um salto na busca de instalações, o gatilho que dispara essa busca é a diferença de preço em relação à gasolina — explica Bastos.
Neste ano, o preço médio do litro da gasolina comum nos postos acumula alta de 39,38% no Estado, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O preço do metro cúbico do GNV também deu um salto de 25,12%, mas o valor final segue mais atrativo. O coordenador da Sulgás salienta que o GNV continuaria mais vantajoso mesmo em um cenário de valor nos mesmos patamares do que o da gasolina.
— Se fosse o mesmo valor, o usuário ainda ia ter em torno de 20% a 25% de economia, que é o que o metro cúbico de GNV rende a mais em relação ao litro de gasolina — compara Bastos.
Fatores
Maurício Weiss, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que, além do preço menor, o aumento dos trabalhos de transporte de pessoas e de entregas via aplicativo também ajudam a entender a busca pelo GNV. A taxa de desemprego elevada no país acaba impulsionando as ocupações alternativas. A manutenção de taxas de juros mais baixas até os primeiros meses do ano também facilitou o acesso a financiamentos para conversão, segundo o economista.
— As pessoas estão procurando fontes alternativas de renda. Uma delas é serviço de entrega de mercadorias e serviço de transporte, como Uber e outras empresas. — E elas precisam achar alternativa para conseguir rodar com preços mais baixos — explica Weiss.
Proprietário da Komgás, empresa que realiza a instalação de kit GNV em Porto Alegre há 20 anos, o empresário Luiz Carlos Koppe, 68 anos, cita incremento médio de cerca de 40% nos serviços da companhia neste ano em relação ao ano passado. Segundo Koppe, a busca maior continua sendo entre táxis e veículos de transporte via aplicativo, mas já cresce a instalação em veículos de passeio. Ele observa que a procura segue aumentando.
— Antes eu levava três dias, ia até quarta-feira para completar a agenda. Isso há um, dois meses atrás. Agora, abro a agenda na segunda e no final da tarde já tenho que encerrar. Não posso mais agendar para a semana seguinte — revela Koppe.
O proprietário afirma que a firma trabalhava com média de oito a 10 carros por semana. Agora, passou para entre 15 e 18 veículos.
Futuro
Marcelo Bastos, da Sulgás, avalia que o mercado deve seguir em retomada:
— Em dezembro de 2019, a gente passou, o que foi uma marca para a companhia, de 300 mil metros cúbicos de gás natural por dia só no segmento veicular. Hoje, estamos em 280 mil metros cúbicos. A expectativa é de que a gente passe de novo os 300 mil metros cúbicos.
Luiz Carlos Koppe, da Komgás, afirma que, com o aumento da demanda, a empresa já estima enfrentar problemas para obter insumos e atender ao volume maior de vendas, que deve aumentar até o fim do ano.
O professor Maurício Weiss diz que a continuidade da alta na busca pelo GNV depende do futuro econômico do país. Em relação aos combustíveis, destaca que mudanças nos preços dependem de diversos fatores, como a taxa cambial e a produção de petróleo.