Após flertar com a casa do 1% em julho, a inflação deve seguir em patamares elevados nos próximos meses. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 8,99% no período de 12 meses, ainda distante do teto da meta estabelecida pelo Banco Central para 2021: 5,25%. Em Porto Alegre, o IPCA registrou variação de 1,23% em julho e chegou a 10% no acumulado em 12 meses.
Economistas ouvidos por GZH apontam que a inflação deve continuar acelerando no país nos próximos meses. Energia elétrica e combustíveis mais caros estão entre os fatores que ajudam a compor esse cenário menos otimista.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que a persistência de preços mais elevados em serviços administrados, que são regulados e monitorados pelo poder público, terá a maior influência em inflação elevada até o fim do ano:
— A energia elétrica vai ser o carro-chefe da inflação neste ano e também a parte dos combustíveis. Só a gasolina já acumula alta superior a 30%, o diesel também na mesma magnitude. E o etanol, embora não seja derivado do petróleo, também já subiu 40% e pode subir mais por conta dos efeitos da seca nos canaviais.
Braz destaca que os alimentos também terão participação na continuidade de inflação alta, mas em menor patamar na comparação com energia elétrica e combustíveis. Produtos que compõem a cesta básica devem ser os mais afetados pela escalada nos preços, principalmente, pelas mudanças climáticas, segundo o economista:
— Diria que 40% da inflação acumulada neste ano pode vir de preços administrados, especialmente de energia e gasolina, e uns 20% podem vir de alimentos. Então, 60% da inflação acumulada neste ano fica na mão de preços monitorados e alimentos.
A gente vai conviver com essa inflação alta no mínimo até meados do ano que vem
MARCELO PORTUGAL
Professor da UFRGS
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal estima que a aceleração mensal da inflação deve seguir pelo menos até setembro, influenciada pela energia elétrica mais cara. Portugal destaca a possibilidade de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) subir novamente o valor da bandeira vermelha patamar 2. O professor projeta desaceleração a partir de outubro, mas com variação acumulada em 12 meses ainda em patamares altos.
— Como a inflação vai cair a partir de um patamar muito alto, de quase 10%, a gente vai conviver com essa inflação alta no mínimo até meados do ano que vem — afirma Portugal.
O professor da UFRGS afirma que o reajuste negativo nos planos de saúde é um dos fatores que vai contribuir para puxar a inflação para baixo até o final do ano.