Há uma dificuldade extra para o consumidor driblar a inflação de agora. Ela está sendo puxada pelos chamados preços administrados, que são aquelas despesas que, de alguma forma, têm os reajustes regulados. Seja por governo, estatal ou agência reguladora. São ambientes com menor ou nenhuma concorrência.
Aqui em na região metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, a inflação de julho pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a segunda maior do país: +1,31%. Com isso, atingiu 10% no acumulado de 12 meses. O IBGE destacou o impacto extra do reajuste da RGE, da tarifa de água e esgoto e das passagens de ônibus. Além disso, a inflação do mês foi puxada pelo aumento de 52% pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) da bandeira vermelha patamar 2 e da gasolina, como reflexo do aumento anunciado pela Petrobras nas refinarias. Em todos os casos, praticamente só resta ao consumidor reduzir consumo, salvo algumas substituições peculiares, como a lenha.
Por outro lado, um dos itens que ajudou a evitar uma inflação ainda maior no mês passado também tem o preço administrado. Foi o plano de saúde, que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou reajuste negativo de 8,19% nos planos individuais e familiares, considerando que houve redução dos custos no último ano.
A previsão do relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, mostra que o mercado espera que os preços administrados fechem 2021 com uma alta superior a 10%. É praticamente o triplo da meta do governo federal para a inflação geral, que deve fechar o ano em mais de 6%, segundo a mesma pesquisa. No ano passado, com queda mundial de demanda na pandemia e com decisões de impacto social das agências reguladoras, eles evitar que a inflação fosse maior, mesmo com a disparada das commodities já pressionando a cadeia econômica.
Inflação do país
A inflação acelerou para 0,96% em julho com reajustes na energia elétrica, registrando o maior resultado para o mês desde 2002, segundo o IBGE. Entrou em vigor o reajuste de 52% na bandeira tarifária vermelha patamar 2. Com isso, o IPCA acumula alta de 8,99% nos últimos 12 meses.
- Qualitativo um pouco pior que o esperado, com núcleos relativamente estáveis (se esperava ceder um pouco) e difusão subiu. Nas aberturas serviços seguiu no patamar alto que havia alcançado no IPCA-15 (em linha) e bens acelerou bastante, vindo acima do esperado. Mostra que os problemas de descasamento entre oferta e demanda não parecem perto de estar resolvidos. Detalhando um pouco mais os bens, notem que a inflação de vestuário também contribuiu, com os semiduráveis cedendo menos que o esperado. De todo modo, foram os duráveis que puxaram pra cima, puxados pelos itens que citei antes. Serviços excluindo alimentação fora ficou lá em cima. Toda essa parte mais relacionada com atividade/PM explicou o nível, enquanto a alimentação fora foi a surpresa baixista, devolvendo a alta recente. Mas é mais importante os demais itens, que ficaram altos - detalha análise de João Fernandes, economista da Quantitas Asset.
Rumo do Banco Central
Na ata divulgada hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação, são necessárias elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até patamar acima do neutro. A Selic aumentou para 5,25% na semana passada. A previsão atual para 2021 é fechar em 7,25%. O patamar neutro é de 6,5%.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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