O endividamento segue crescendo no Rio Grande do Sul, mas sem impulsionar a inadimplência. O percentual de famílias endividadas no Estado subiu para 78,6% em junho. Esse é o valor mais elevado desde maio de 2011, quando o indicador chegou aos 80,4%. Os dados fazem parte de pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS). Em junho de 2020, esse percentual estava em 61,9%.
A pesquisa leva em conta dívidas contraídas em diversos meios, como cartões de crédito, carnês de loja e empréstimos. O levantamento considera essas pendências independentemente das parcelas estarem sendo pagas em dia ou não. Portanto, esse indicador também leva em conta as dívidas que estão sendo honradas.
Se por um lado o endividamento continua em patamares elevados no Estado, os números de inadimplência vão na direção contrária. O percentual de famílias com contas em atraso caiu de 27,8%, em junho de 2020, para 20,8% em junho deste ano. Já a parcela de famílias que não terão condições de quitar seus compromissos dentro dos próximos 30 dias ficou em 5% no último mês — abaixo dos 14,2% registrados em junho do ano passado. Ou seja, a parcela da população endividada cresceu, mas em um cenário onde os débitos são honrados na maioria dos casos.
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, afirma que o percentual elevado de endividamento não preocupa neste momento, pois não existe um cenário de avanço da inadimplência. Patrícia salienta que as pessoas entenderam que o crédito é um instrumento fundamental para as contas fecharem neste momento de renda prejudicada, inflação crescente e incerteza em relação ao futuro da economia no país. A necessidade de continuar com o nome limpo para buscar crédito também ajuda a explicar esse movimento, segundo a economista.
— Até o momento, a gente tem visto que a parcela da renda comprometida com pagamento de dívidas tem ficado menor. As pessoas estão fazendo dívidas de valor menor por menos tempo. Elas estão fazendo uma gestão das suas dívidas de forma que evitem uma situação de inadimplência — destaca a economista-chefe da Fecomércio-RS.
Patrícia ressalta que o maior número de famílias endividadas sempre implica em potencial maior de inadimplência no futuro. Nesse sentido, a economista-chefe afirma que o avanço da vacinação é fundamental para evitar um salto nas dívidas em atraso, pois vai reaquecer a atividade econômica diante de maior segurança e circulação.
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que o parcelamento de pagamentos é uma alternativa usada pelas famílias diante da redução de renda. A economista também entende o resultado do levantamento como um indicativo de maior conscientização das pessoas em relação ao orçamento em um período de crise econômica.
— Esse gasto mais consciente teve uma relação direta com a pandemia no ano passado, com o fato das pessoas terem ficado mais em casa, com redução salarial, algumas com perda do emprego. Elas aproveitaram para segurar mais o dinheiro. E, quando fizeram uma compra, fizeram de forma parcelada para não comprometer o orçamento. De forma consciente, porque a maioria informa que vai conseguir pagar — pontua a professora da UCS.