No primeiro mês do ano, o Rio Grande do Sul criou 27,2 mil empregos com carteira assinada. O saldo consiste na diferença entre as 110,1 mil contratações e as 82,9 mil demissões ocorridas em janeiro, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta terça-feira (16). O resultado é o melhor para janeiro na série histórica das estatísticas do mercado de trabalho, iniciada em 1992. Frente ao mesmo período de 2020, quando o Estado gerou 13,2 mil postos, há avanço de 106%.
O desempenho na largada de 2021 supera as 22,1 mil vagas formais perdidas no mercado de trabalho gaúcho ao longo de todo o 2020. No entanto, no acumulado dos últimos 12 meses, há perda de 8,1 mil posições. O saldo acumulado desde março de 2020, quando a pandemia de coronavírus começou a avançar e a impactar a economia, também é negativo e totaliza 31,2 mil postos. Ou seja, esse é o montante de empregos que o Estado ainda precisa criar para recuperar integralmente os perdidos desde o início da crise sanitária.
Em janeiro de 2021, todos os setores da economia tiveram saldo positivo. O resultado foi puxado, principalmente, pela indústria, que criou 12,4 mil vagas formais no período. Na sequência, aparece a agropecuária (6,5 mil), impulsionada pela demanda de trabalhadores temporários para a colheita. Depois vêm os serviços (5,1 mil), o comércio (2 mil) e a construção (1,2 mil).
Economista e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Ely José de Mattos, avalia o resultado como positivo, mas lembra que foi puxado principalmente pela demanda sazonal de segmentos da indústria e da agropecuária. Mesmo com o saldo no azul, Mattos avalia que, em meio ao agravamento da pandemia desde fevereiro, é precipitado falar em retomada plena da geração de vagas.
- É um movimento bastante concentrado em alguns setores da indústria e da agropecuária. Das mais de 12 mil vagas na indústria, cerca de 4 mil estão no setor de couros e outras 1,2 mil no fumageiro. Já na agropecuária teve a colheita da maçã, que contrata bastante - diz Mattos, lembrando que esses segmentos tradicionalmente costumam puxar as contratações nesta época do ano.
Expectativa
Em janeiro, com o início da vacinação contra covid-19 no país, as empresas nutriam expectativas otimistas em relação ao crescimento da demanda e isso também fez com que se contratasse mais. Economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e Serviços (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo explica que os números do Caged evidenciam um processo ainda de recomposição da força de trabalho, após o estoque de empregos encolher drasticamente, em especial no primeiro semestre de 2020.
- Mesmo com todos os setores tendo um janeiro positivo, comércio e serviços ainda seguem com um estoque de trabalhadores inferior ao que tinham no mesmo período de 2020 -pondera Patrícia, recordando que os setores foram os mais impactados pela pandemia no ano passado.
O desempenho gaúcho acompanha movimento na nacional. Em janeiro, o Brasil gerou 260,4 mil postos de trabalho com carteira assinada, segundo o Caged. O saldo provém da diferença entre 1,53 milhão de admissões e 1,27 milhão de demissões. No período, os cinco setores da economia fecharam no azul.
A indústria liderou a criação de empregos, com 90,4 mil novas posições. Posteriormente, figuram serviços (83,7 mil), construção (43,5 mil), agropecuária (33 mil) e comércio (9,8 mil).
Agravamento da pandemia amplia incertezas
O recente agravamento da pandemia de coronavírus fez com que o otimismo de janeiro ficasse no passado. Com o aumento expressivo nos números de casos e mortes por covid-19 no Rio Grande do Sul e no Brasil, a tendência, segundo economistas, é de que o mercado de trabalho volte a ser impactado. Ainda no final de fevereiro, comércio e serviços não essenciais voltaram a fechar as portas para atender às regras da bandeira preta do modelo estadual de distanciamento controlado.
- No comércio e nos serviços devemos observar uma desaceleração das contrações. Podemos ver cada vez mais contratos intermitentes, diante de um cenário de abre e fecha, já que as empresas não tem demanda suficiente para mão de obra em tempo integral - projeta Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS.
A tendência, segundo Patrícia, é que o retorno do cenário de medidas restritivas à circulação de pessoas se reflita mais claramente nos dados de contratações de março. A economista ressalta que somente “a vacina vai curar a economia” e, enquanto o processo de vacinação da população não avançar, as incertezas permanecem.
- O cenário atual da pandemia, inegavelmente, terá impactos (no mercado de trabalho). A retomada, que se ensaiava em janeiro e fevereiro, não deve se confirmar em março - complementa Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da Pucrs.