Pelo quinto mês consecutivo, o Rio Grande do Sul teve mais contratações do que demissões no mercado de trabalho formal. Em novembro, o Estado abriu 29.788 empregos com carteira assinada, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta quarta-feira (23) pelo Ministério da Economia. É o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica, que tem dados desde 1992.
O resultado provém da diferença entre as 103.719 admissões e os 73.931 desligamentos realizados no mês passado. O comércio puxou o saldo positivo gaúcho, com a geração de 11.317 postos formais. Os demais setores da economia também ficaram no azul, criando empregos no período: indústria (8.235), serviços (7.933), agropecuária (1.291) e construção (1.012).
Economista e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Gustavo Inácio de Moraes ressalta que o desempenho não chega a surpreender. Por causa da demanda de datas como Black Friday e o Natal, novembro costuma ser um mês em que o comércio reforça o quadro de funcionários.
Além disso, Moraes lembra que o auxílio emergencial ajudou a atenuar os efeitos da pandemia na economia e vem movimentando setores do varejo, o que também se reflete nas contratações das empresas.
– O resultado positivo segue a tendência dos últimos meses. Nesta época do ano, há um aquecimento no setor serviços e no comércio, e isso faz com que naturalmente os números do segundo semestre sejam melhores - salienta.
Apesar da sequência de resultados positivos nos últimos meses, o Rio Grande do Sul ainda não recuperou os empregos perdidos durante o auge da crise do coronavírus. No acumulado do ano, o Estado apresenta perda de 19.532 vagas com carteira assinada, principalmente pela destruição de postos entre março e junho. O resultado é consequência da diferença entre 885.254 contratações e 904.786 demissões ocorridas em 2020.
Em 2020, o setor de serviços acumula a perda de 22.949 vagas, e o comércio fechou 9.572 posições. Por outro lado, a indústria lidera as contratações, com saldo positivo de 8.679 empregos.
Também estão no azul construção (2.629) e agropecuária (1.681). Para a economista e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Maria Carolina Gullo, no momento somente a indústria engatou retomada consistente, após a paralisação das fábricas no início da pandemia ter derrubado a produção e, por tabela, o nível de emprego.
– Vários segmentos da indústria estão aquecidos, como alimentos, fábricas de embalagens, móveis e de produtos ligados à construção. Isso faz com que o setor no Estado esteja recompondo sua mão de obra - salienta.
Já o comércio e os serviços ainda têm um largo caminho para recuperar o estoque de empregos que tinham antes da pandemia. Neste sentido, a evolução da crise sanitária no Estado, com o aumento no número de pessoas infectadas e a eventual adoção de novas medidas restritivas, pode fazer com que a recuperação seja lenta.
Desempenho nacional
O desempenho gaúcho em novembro está alinhado com o nacional. O Brasil registou a abertura de 414.556 postos de trabalho formais no período, também engatando o quinto mês consecutivo de saldo positivo no Caged. No entanto, a situação do Rio Grande do Sul destoa da média nacional no acumulado de 2020, já que o país voltou a ficar no azul, totalizando 227.025 novas vagas.
No ano, o Estado é o segundo que mais teve postos de trabalho destruídos, atrás somente do Rio de Janeiro: perdeu 133.754 posições. Além disso, a recuperação do mercado de trabalho gaúcho ocorre em ritmo aquém da média da região Sul. Entre as 27 unidades da federação, os vizinhos Santa Catarina e Paraná lideram a criação de vagas com carteira assinada. Catarinenses têm saldo positivo de 67.134 postos, e paranaenses, de 61.586.
– Santa Catarina e Paraná têm conseguido atrair mais empreendimentos, hoje têm maior competitividade em relação ao Rio Grande do Sul - justifica Gustavo Inácio de Moraes, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS.
De quebra, o desenrolar da pandemia, com o aumento dos casos de infeção, gera incertezas sobre o movimento do mercado de trabalho gaúcho nos próximos meses. Economista e professora da UCS, Maria Carolina Gullo lembra que o resultado positivo de novembro veio quando ainda vigoravam bandeiras laranjas na maior parte das regiões. Em dezembro, a especialista acredita que o endurecimento recente dos protocolos, que chegou a atingir a cor preta, e a adoção de restrições em algumas atividades podem fazer com que o resultado do Caged seja menos favorável.