A vitória do candidato democrata Joe Biden nas eleições nos Estados Unidos deve trazer uma série de impactos à economia do Brasil e, por tabela, à do Rio Grande do Sul. Especialistas ouvidos por GZH avaliam que a presidência de Biden aumentará a pressão internacional em relação à preservação da Amazônia, forçará um giro na política externa brasileira e poderá repercutir nos negócios de setores exportadores gaúchos, como o agronegócio.
Durante a campanha, o democrata demonstrou preocupação com o avanço das queimadas no Brasil e disse que “reuniria o mundo” se a floresta amazônica não fosse protegida. Nesse sentido, ameaçou o país com sanções econômicas por causa do desmatamento. Especialista em economia internacional e professor da Universidade de São Paulo (USP), Simão Davi Silber avalia que Biden deverá cumprir a promessa, caso o governo de Jair Bolsonaro mantenha a política externa nos moldes atuais.
— Não sobrará pedra sobre pedra da política externa do governo Bolsonaro. Se o Brasil quiser ter algum relacionamento com os Estados Unidos terá de tirar esse pessoal com uma visão subserviente (ao governo Donald Trump) e estabelecer uma equipe de mais diálogo — analisa Silber, ressaltando que, com a nova configuração política, Bolsonaro deverá mudar os interlocutores em áreas como ambiente e relações exteriores.
Apoiador declarado de Donald Trump, Bolsonaro vem criticando Biden pelas falas em relação à Amazônia e vê tentativa de “interferência” do democrata em questões internas do Brasil. Economista e professor da Unisinos, Marcos Lélis avalia que, se o governo brasileiro não enviar sinais de que está trabalhando para evitar o desmatamento, a pressão internacional em relação à preservação ambiental crescerá.
— Podemos ver um movimento dos Estados Unidos se aproximando dos europeus para pressionar o governo brasileiro em relação à questão ambiental e isso pode ter reflexos no comércio — sintetiza.
Neste sentido, Lélis vê que produtos brasileiros que já sofreram restrições no passado, como calçados e carne bovina, poderiam ter seu fluxo novamente afetado com os norte-americanos.
Chineses
Atualmente, os EUA são o segundo maior parceiro comercial tanto do Brasil quanto do Rio Grande do Sul, segundo dados do Ministério da Economia. De janeiro a setembro de 2020, as exportações brasileiras ao país chegaram a US$ 15,2 bilhões, queda de 31,5% frente a igual período de 2019. Ao mesmo tempo, a importação totalizou US$ 18,3 bilhões, recuo de 18,8%.
O fluxo comercial só é inferior ao mantido com a China. E a relação do novo governo americano com os chineses é outro ponto que deverá ser acompanhado com lupa pelo Brasil, já que poderá balizar transações principalmente no agronegócio. Em meio à guerra comercial entre China e EUA nos últimos anos, a demanda dos asiáticos por soja brasileira se intensificou.
Professor de economia internacional da Universidade Regional do Noroeste do Estado (Unijuí), Argemiro Brum avalia que o governo Biden deverá seguir pressionando a China, mas vê possibilidade de a tensão entre as duas potências se dissipar gradativamente e repercutir nas vendas do agronegócio brasileiro e gaúcho.
— Com a relação comercial entrando numa normalidade, os chineses direcionariam mais a compra de soja e carnes dos Estados Unidos. Mas isso não significa que sairemos do mercado chinês, já que eles seguem aumentando suas compras e só os Estados Unidos não dão conta — frisa.