O Rio Grande do Sul registrou o quarto mês consecutivo de criação de vagas de trabalho com carteira assinada. Em outubro, foram abertos 27.013 empregos formais no Estado. Divulgado nesta quinta-feira (26) pelo Ministério da Economia, o saldo representa novo passo na tentativa gaúcha de recuperação das perdas geradas pela pandemia.
O resultado mede a diferença entre contratações e demissões. É o melhor desempenho para outubro já registrado na série histórica do Caged, o cadastro do governo federal sobre empregos formais. Há dados disponíveis desde 1992.
No mês passado, o saldo decorreu da diferença entre 102.117 admissões e 75.104 cortes. Apesar do novo resultado positivo, o Rio Grande do Sul segue no vermelho no acumulado de 2020.
De janeiro a outubro, foram perdidas 48.092 vagas. O número é superior à população de um município como Osório, no Litoral Norte (46,4 mil habitantes). Além do coronavírus, a estiagem prejudicou a atividade econômica na largada deste ano, causando reflexos no mercado de trabalho.
Analistas atribuem a melhora recente a uma combinação de questões. Uma delas é a reabertura gradual da economia. Medidas do governo para proteção de empregos e transferência de renda ainda ajudaram.
Por fim, o terceiro e o quarto trimestres do ano tendem a favorecer contratações em ramos como o comércio, estimulado por datas festivas, incluindo Dia das Crianças, Black Friday e Natal.
— Há um reflexo da reabertura gradual da economia. Alguns setores estão registrando nível de atividade próximo ou até maior daquele de antes da pandemia. Esse é o primeiro ponto. Depois, há o impacto das políticas anticíclicas, mas que estão chegando ao limite — afirma o economista Fábio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre.
No mês passado, os cinco setores pesquisados pelo Caged tiveram alta no emprego formal no Estado. O maior saldo de vagas foi o do comércio (8.864). Na sequência, apareceram indústria (8.149) e serviços (7.775). Construção (1.794) e agropecuária (431) completaram a lista.
Melhora no Brasil
Os dados do Caged sinalizam que o desempenho estadual pegou carona no embalo nacional. Em outubro, o Brasil também teve saldo positivo, com criação de 394.989 vagas. Conforme o Ministério da Economia, o número representa recorde na série histórica. Foi o quarto mês seguido com resultado no azul.
Por outro lado, no acumulado de 2020, o Brasil continua no vermelho. Com impacto do coronavírus, o país amargou perda de 171.139 postos formais entre janeiro e outubro. A quantia equivale a duas vezes a população de município como Lajeado, no Vale do Taquari (85 mil habitantes).
Professor da UFRGS, Marcelo Portugal considera que o resultado de outubro deve ser celebrado no país porque indica movimento "forte e crescente" do mercado formal. Entretanto, o economista alerta para os riscos da eventual segunda onda da covid-19, que pode frear os negócios, além do provável término de medidas de suporte à economia, previsto para 2021.
— De forma geral, diria que podemos abrir uma cerveja e comemorar o saldo de outubro, mas ainda não ganhamos o campeonato. Chegamos até a semifinal. Temos de pensar no que pode vir daqui para frente — pontua Portugal.
Nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, festejou o desempenho apurado pelo Caged. Disse que, até o final do ano, o país pode zerar a perda de empregos causada pelo coronavírus.
— A economia brasileira continua retomando em V — comentou o ministro, citando o termo que define movimento de reação rápida após queda intensa.
Os dados do Caged guardam diferenças metodológicas em relação ao cálculo de desemprego no país. O levantamento divulgado pelo Ministério da Economia reúne apenas dados sobre trabalho com carteira assinada. Já a taxa de desocupação reflete o quadro tanto do setor formal quanto do informal.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o responsável por esse cálculo. Nesta sexta-feira (27), o órgão deve divulgar nova pesquisa de desemprego, a Pnad Contínua, com dados referentes ao terceiro trimestre.
À medida que mais pessoas buscarem vagas, a taxa tende a subir. É que uma pessoa só é considerada desempregada quando procura oportunidades, mas não encontra trabalho formal ou informal.
Dois riscos no horizonte
Após o Rio Grande do Sul e o país registrarem melhora no mercado de trabalho formal, pelo menos dois riscos aparecem no radar. São eles: o recente aumento de casos de coronavírus e o possível fim de medidas de estímulo à economia em 2021.
A eventual segunda onda de covid-19 pode causar restrições e paralisar atividades novamente. Já o fim de medidas de estímulo está relacionado às dificuldades fiscais do país.
Durante a crise, o governo federal lançou, por exemplo, programa de redução de carga horária e salários para preservar empregos. O corte nos rendimentos é compensado com recursos públicos.
— Isso tem ajudado a manter empregos — constata Portugal. – Outro problema é a chamada segunda onda de coronavírus. Ainda não sabemos o que vai ocorrer – completa.
Professor da ESPM em Porto Alegre, Fábio Pesavento também chama atenção para esses pontos. O economista acrescenta que, em 2021, o governo federal precisaria retomar a agenda de reformas.
— O governo ainda não sinalizou qual é a agenda para o ano que vem. É a das reformas? O risco fiscal está aí, além dos riscos do vírus e do fim das políticas anticíclicas — frisa.