A economista Elena Landau, que ficou conhecida, na década de 1990, por participar das privatizações realizadas na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, avaliou nesta quinta-feira (1º) a condução do governo de Jair Bolsonaro na área da venda de estatais. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, Elena apontou o que considera o principal motivo para a "agenda liberal" não deslanchar no país.
— Não dá (para privatizar) porque ninguém quer fazer, na realidade. É só uma fachada. Eu entrei no governo pelo Itamar Franco, e o Itamar não era super-favorável à privatização, mas ele entendia a importância para o Plano Real, para a estabilidade. O que acontece hoje é que o presidente Bolsonaro nunca quis fazer privatização, aquilo foi um papo de campanha, uma ideia fantasiosa do (ministro da Economia, Paulo) Guedes — afirmou.
Na quarta-feira (30), Guedes afirmou que há "boatos" de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria feito um acordo com a esquerda para não pautar as privatizações. Para Elena, na verdade, o ministro está "incomodado com o protagonismo” do deputado fluminense.
— O Guedes está sendo cobrado porque ele anunciou, há 90 dias, que quatro grandes privatizações seriam anunciadas. Ele vai ser cobrado, já está sendo. (…) Ele está incomodado também com o protagonismo do Rodrigo Maia na reforma da Previdência, na reforma tributária, e precisa arranjar um culpado. Então não há nada disso. Qual o único processo que o Congresso não deu encaminhamento? O da Eletrobras. Mas tem uma lista de empresas que não precisam do Congresso. Se não fechar EBC e Valec, vai ser um fiasco.
Renda Cidadã
Elena também comentou sobre a proposta do Renda Cidadã, anunciado como programa social para substituir o Bolsa Família. O tema gerou polêmica principalmente devido à forma estudada para financiar o projeto: entre elas, o uso de recursos de precatórios.
— Ou é pedalada, porque deixa pro seguinte (pagar), ou é calote, porque não vai pagar de forma lateral. A reação foi evidente, porque cria uma desconfiança se o governo vai honrar suas dívidas. Eu não sei porque ainda insistiram. Foi um desastre. (...) Era uma excelente oportunidade para rever programas sociais — argumentou.
— O que a gente vê é uma dificuldade de enfrentar dificuldade. Qualquer dificuldade e reação corporativa já desiste. Não se enfrenta militar, não se enfrenta elite do funcionalismo e Judiciário. E pensa: é melhor furar o teto. Agora temos uma reação da sociedade que não quer mais inflação. E vai tornando difícil a vida do Bolsonaro — complementou.