Um dos termômetros do mercado imobiliário no Litoral Norte está em alta temperatura: a arrecadação do Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). Cobrado nas transferências imobiliárias, o tributo aponta aumento na compra de casas e apartamentos nas praias, fenômeno identificado pelos profissionais da área.
Somente no mês de setembro, Capão da Canoa viu dobrar a arrecadação de ITBI, passando de um R$ 1,3 milhão em 2019 para R$ 2,6 milhões no mesmo mês neste ano. Movimento semelhante foi identificado no mês passado, com percentuais parecidos nos meses anteriores, em Torres (aumento de 65%), Tramandaí (34%) e Imbé (50%). Os setores responsáveis pela arrecadação nesses municípios confirmam que o salto foi desproporcional em comparação a anos anteriores.
As prefeituras, ainda, comemoram o fato da movimentação garantir abastecidos os cofres dos municípios em momento de crise. Combinada com a percepção de profissionais das imobiliárias e construtoras, a arrecadação de ITBI confirma uma migração maior durante o período da pandemia.
— Temos contato com imobiliárias de todo o Litoral Norte. A procura por imóveis residenciais nos últimos meses foi intensa. Os dados que nós colhemos, comparados com anos anteriores, apontam um aumento de 10 vezes na compra de casas e de oito vezes na de apartamentos. Se nota nos clientes uma antecipação de planos. Aquele desejo de morar na praia que era para daqui uns anos foi apressada pela pandemia - relata o vice-presidente do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon-RS) e coordenador regional do Litoral Norte, Alfredo Pessi.
Alternativa às fronteiras fechadas
Doutor em Geografia Humana e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o pesquisador do Observatório das Metrópoles Paulo Roberto Soares aponta que o movimento de migração para o Litoral Norte já fora identificado em anos anteriores.
— Já é uma região que se destaca no crescimento demográfico, um processo de mudança para um lugar mais calmo. Esses dados podem significar que a pandemia acelerou isso quando fez muitas pessoas readequarem sua vida profissional. Podem trabalhar em casa com internet banda larga e, pontualmente, se deslocaram rapidamente para tarefas na Capital por boas rodovias — afirma o professor.
Mas o Sinduscon-RS identifica que a procura por imóveis deve se estabilizar. E, com a chegada do verão, uma nova busca pode crescer, dessa vez por aluguéis.
— Essa demanda de compra por imóveis deve se estabilizar e retomar uma normalidade a partir de dezembro. Agora, a procura por imóvel para alugar na temporada de verão é uma questão a ser avaliada. Com fronteiras fechadas e deslocamentos longos não indicados, muita gente que não ficava no litoral gaúcho deverá procurar um lugar — diz Pessi.