Em meio à pandemia, com o dólar beirando os R$ 5,80 e com as recentes declarações feitas pelo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, cidades gaúchas localizadas na fronteira preveem um movimento mais contido de turistas no feriadão de Finados. A expectativa é, em parte, reação à fala do líder do país vizinho: na última semana, ele anunciou que o verão uruguaio será restrito, com "fronteiras basicamente fechadas".
O anúncio só diz respeito à próxima estação, mas já causa impacto para os próximos dias devido à repercussão da fala. Pelo decreto uruguaio, as fronteiras estão com acesso restrito desde março, mas há exceções, como casos de transportadores de cargas e de viagens a trabalho. Brasileiros que demonstrem sua condição de moradores de cidades fronteiriças também podem passar — mas, na prática, outras pessoas também conseguem cruzar a fronteira em cidades onde o país vizinho fica na rua ou quadra ao lado. O que não é possível é seguir para outras áreas do interior uruguaio.
Em Santana do Livramento, onde basta atravessar a rua para se chegar a Rivera, a prefeitura espera movimentação grande para alguns setores e menor para outros. Os ônibus de excursão que levam pessoas que costumam comprar e vender produtos seguem previstos em peso. Quem deve se deslocar com menor intensidade é o turista que pega o carro para visitar os free shops.
— A pessoa que está longe e tem um familiar aqui deve vir, assim como aqueles que vêm para o Dia de Finados, para visitar o túmulo de um parente. Mas, do ponto de vista de compras, de lazer, a sensação é de que esse turista está mais comedido. As restrições impostas pelo Uruguai acabam tendo esse efeito — diz o secretário geral de Governo do município, Ricardo Dutra.
Os principais acessos a Rivera via Santana do Livramento têm a presença de veículos do exército uruguaio, que faz bloqueios sanitários para combater o avanço da covid-19. Nos postos de controle, é feita a medição de temperatura, além de trâmites de identificação. O acesso, no entanto, é permitido, desde que a circulação se limite a Rivera.
Mesmo assim, há quem tenha cancelado a viagem por medo de encontrar a fronteira fechada. Proprietário de quatro hotéis do Grupo Verde Plaza Hotels, o empresário João Gabriel Hillal relata que houve diversas ligações nesta semana para cancelar reservas. A ocupação, que estava entre 90% e 100% dos leitos permitidos dentro das atuais regras sanitárias, caiu para 60% a 70%.
— O anúncio uruguaio prejudicou muito para uma cidade que não está com a fronteira totalmente fechada. Ela está controlada, e bem controlada. Tenho um parque de águas termais que fica dentro de Santana do Livramento, e até o público que ia para esse local acabou cancelando — lamenta.
Segundo a Associação Comercial e Industrial da cidade (Acil), ao mesmo tempo em que há alta procura, há alto índice de cancelamentos de reservas. Os fatores econômico e sanitário reduziram a procura vista em outros anos.
No Chuí, vizinha da homônima Chuy, o turismo costuma ser puxado pela visita de uruguaios, que vão à cidade para compras ou para visitar balneários próximos. Neste caso, o movimento deve se manter, porque o centro das duas cidades é conectado — é possível ingressar no Uruguai antes de passar pela aduana. O deslocamento de visitantes de outras regiões do Estado, no entanto, deve ser baixo:
— O movimento do pessoal que vem para cá não é o que alavanca a nossa economia. Mas diminuiu, por causa do dólar e da pandemia. As mercadorias estão muito caras. Com a declaração do presidente uruguaio, quem estava pensando em vir, agora nem vem — relata o prefeito Marco Antônio Barbosa.
Em Jaguarão, conectada por uma ponte a Rio Branco, a situação é ainda mais difícil. Na conexão, o governo uruguaio só permite a passagem de moradores das duas cidades, em um deslocamento entre uma outra. Turistas de outros lugares, portanto, estão proibidos.
— Alguns conseguem passar em horários em que não há controle, mas o risco é grande de não conseguir. Até teremos, no feriadão, movimento de pessoas que vêm para os nossos free shops, mas nem se compara ao cenário se os free shops do lado uruguaio estivessem abertos — explica o prefeito, Favio Telis.
Fiscalização
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem fiscalização reforçada no Rio Grande do Sul para o feriadão. A Operação Finados começou nesta sexta-feira (30) e segue até a próxima segunda-feira (2).
A PRF de Santana do Livramento prevê entre 150 e 200 ônibus de turismo ingressando na cidade, movimento considerado intenso, mas bem inferior a outros anos. Já a PRF de Pelotas, responsável por municípios mais ao Sul, prevê fluxo mais baixo.
A Polícia Federal informou que desde o início da pandemia trabalha com reforço do Exército em locais de fronteira. Assim, nada muda para o feriadão.