O presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius, e o presidente da Cooperativa Santa Clara, Rogerio Bruno Sauthier, debateram os efeitos da pandemia de coronavírus no cooperativismo durante o Painel Atualidade, na Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (9). As lições deixadas pelo enfrentamento à crise sanitária, a retomada pós-pandemia e a importância da inovação estão entre os principais temas levantados durante a conversa.
Nas quartas-feiras, o quadro dentro do programa Gaúcha Atualidade ouve representantes de setores econômicos para provocar o debate e estimular a busca por alternativas para a diminuição do impacto negativo causado pela pandemia.
O que é o Painel Atualidade?
Trata-se de um novo quadro semanal dentro do Gaúcha Atualidade, que pretende provocar o debate e estimular a busca por alternativas que ajudem a minimizar o impacto negativo da crise do coronavírus na economia do Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do projeto de Jornalismo de Soluções proposto pelo Grupo RBS, que busca o debate para enfrentar e resolver os problemas diagnosticados.
O Sistema Ocergs-Sescoop/RS promove o cooperativismo como modelo econômico e social e o “desenvolvimento cooperativista do Rio Grande do Sul através da formação profissional, da promoção social e do monitoramento das cooperativas”. Mais antiga cooperativa de laticínios em atividade no Brasil e com sede no Rio Grande do Sul, a Santa Clara industrializa 750 mil litros de leite por dia, resultando em uma linha de mais de 140 produtos. A Santa Clara também oferece outros alimentos, como itens de frigorífico.
Efeitos da pandemia no cooperativismo
— Os setores de crédito expandiram muito os recursos financeiros e atenderam (a demanda). O Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) atendeu integralmente, enquanto outras instituições financeiras tiveram dificuldades. Estamos esperando agora aplicar a segunda parcela de forma imediata, porque as cooperativas têm o mini e o pequeno empresário também associados, que eram os que mais precisavam do Pronampe para socorrer sua pequena e micro empresa. E as cooperativas são muito ágeis nesse aspecto. Já têm um cadastro pronto. E o agro evidentemente que cresceu muito no setor da agroindústria. O Rio Grande do Sul tem 18 agroindústrias. A agroindústria cresceu na pandemia, porque o consumo das famílias no setor alimentício é básico e as exportações aumentaram muito. Os demais setores de trabalho ainda não deslancharam muito, mas vão deslanchar no pós-pandemia. O emprego será difícil, mas o trabalho poderá ser mais fácil dependendo muito das políticas públicas federais — afirmou o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius.
— A gente teve de ter inúmeras atitudes para proteger nossos associados, nossos funcionários e os consumidores. Então, foram tomadas diversas medidas para garantir que a indústria funcionasse. No comércio, houve um impacto muito forte, o pessoal estava desanimado, ninguém queria vir trabalhar, mas graças ao bom senso das pessoas continuaram trabalhando. Foram tomadas medidas de lei, que tinha de tirar as pessoas do grupo de risco, isolar as pessoas que tinham alguma contaminação. Tudo de acordo com a lei, e isso deu um impacto muito grande. No comércio, o pessoal ficou mesmo meio tonto sem saber para onde ir, mas as coisas foram se ajeitando e se estruturando. Na hora da dificuldade, a gente cria mecanismos para superar essa dificuldade, e com isso a gente conseguiu continuar produzindo, vender e, graças a Deus, as perspectivas para o futuro são muito boas — descreveu presidente da Cooperativa Santa Clara, Rogerio Bruno Sauthier.
Lições para outros setores no pós-pandemia
— Creio que, neste momento que nós vivemos, o distanciamento gera união. Então, acho que o momento é propício para o cooperativismo crescer muito no setor urbano e no setor rural. E o setor crédito tem a grande chance de se firmar com maior crescimento ainda, porque o nível de participação das cooperativas no Rio Grande do Sul em relação à população é em torno de 23%. Se nós pegarmos Quebec, no Canadá, o nível de participação da população é de 60% em cooperativas de crédito. Na Europa, passa de 35%, 40%. Então, nós temos muitas chances de crescer no crédito, porque o crédito é elemento fundamental no pós-pandemia para ajudar a desenvolver os micros, pequenos e médios empresários do Rio Grande do Sul e do Brasil inteiro. No mundo inteiro nós precisamos. Mas o setor tem muita chance de crescer em agroindústria. Quem está crescendo neste momento e, principalmente, absorvendo novos postos de trabalho, são as agroindústrias. No futuro, o cooperativismo vai crescer muito fortemente em todos os setores — avaliou Perius.
— Os outros setores aprendem com a cooperativa e as cooperativas também aprendem com os outros setores. Em épocas de crise, quem não inova, quem não se mobiliza, acha outros meios. Quantas vezes a gente vê que estava gastando em coisas que não são necessárias? Em matéria de viagens, por exemplo. Fazer essas reuniões online. Acho que tem um campo enorme de trabalho para poder se adaptar e crescer com força. Claro que precisa de organização. São coisas feitas passo a passo, com pé no chão, com planejamento — destaca Sauthier.
Cooperativismo e infraestrutura
— A internet é básica e a juventude hoje tem uma razão para ficar no campo. O jovem não precisa sair, porque já tem 55 mil propriedades rurais com internet por fibra ótica pelas cooperativas de infraestrutura. Com recursos próprios das cooperativas. Estamos até pedindo na reforma tributária uma emenda ao governador do Estado que faça um crédito fiscal presumido de 50% do custeio da linha de infraestrutura de internet para que os produtores tenham mais fácil acesso. Até para emitir nota fiscal. Tem pessoas que se deslocam 15, 20 quilômetros para fazer uma nota fiscal, porque ainda não tem internet no interior. Mais de cem cidades no Rio Grande do Sul não tem internet no interior. Temos um panorama para crescer muito no pós-pandemia — explicou o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS.
Inovação
— A mudança é uma coisa necessária. Quem não muda fica estagnado. E eu acrescentaria a comunicação. A comunicação e o intercâmbio são fundamentais para o crescimento. Em uma evolução rápida como nós temos hoje, se você não fica atento a tudo que se passa, fica fora do trem. Uma pessoa que se comunica bem tem muita chance de ir bem — apontou o presidente da Cooperativa Santa Clara.
— A revolução agora é digital. Essa é a grande inovação, que reduz custos. Dou um exemplo clássico. Nós temos a faculdade de cooperativismo com alunos em curso de graduação e de pós. Em uma pesquisa que fizemos com mais de 500 alunos, apenas um quer aula presencial. Antes da pandemia, nós não tínhamos uma aula digital, virtual. Então, hoje, os nossos alunos lá de Santa Rosa, de todo o Rio Grande do Sul, vinham a Porto Alegre, as aulas eram no fim de semana, e isso tinha um custo muito elevado. Esses 500 e poucos alunos que temos estão lá na sua televisão, na sua comunicação através do sistema digital, participando das aulas. Essa é uma grande revolução que se gera e uma comunicação muito mais fácil e veloz. Isso para o cooperativismo é uma ferramenta fundamental — salientou Perius.