O presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre, Flávio da Costa Vieira, e o superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi, debateram a situação da saúde privada em meio à pandemia de coronavírus, no quadro Painel Atualidade, na Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (26). As mudanças causadas pela crise sanitária no setor, a retenção nos planos de saúde e o caminho para a retomada estão entre os pontos debatidos pelos gestores.
Nas quartas-feiras, o quadro dentro do programa Gaúcha Atualidade ouve representantes de setores econômicos para provocar o debate e estimular a busca por alternativas para a diminuição do impacto negativo causado pela pandemia.
O que é o Painel Atualidade?
Trata-se de um novo quadro semanal dentro do Gaúcha Atualidade, que pretende provocar o debate e estimular a busca por alternativas que ajudem a minimizar o impacto negativo da crise do coronavírus na economia do Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do projeto de Jornalismo de Soluções proposto pelo Grupo RBS, que busca o debate para enfrentar e resolver os problemas diagnosticados.
Fundada em 23 de dezembro de 1971 por um grupo de 30 médico, a Unimed Porto Alegre é uma sociedade de pessoas de natureza civil “cujo objetivo social é congregar os sócios para o exercício de suas atividades econômicas”. O Hospital Moinhos de Vento foi inaugurado em 2 de outubro de 1927 e é um dos principais da Capital “como referência em práticas médicas, assistenciais e de gestão, sendo reconhecido nacional e internacionalmente”, segundo a instituição.
Mudanças causadas pela crise
— A pandemia pegou a Unimed Porto Alegre, como todas as empresas, não só no Brasil, como em todo o mundo. Traduziria a surpresa mais pela incerteza. Algo novo, ninguém conhecia. E nós tivemos que rapidamente trabalhar. Então, dentro da Unimed, nos reprogramamos, nos reestruturamos, criamos algumas frentes de trabalho para um enfrentamento da crise e começamos a selecionar o que era importante naquele momento. A primeira preocupação que a Unimed teve foi: precisamos manter todo o cuidado para os nossos usuários dentro da Unimed Porto Alegre. Essa foi a primeira ação. E aí tínhamos uma preocupação assistencial, porque essas pessoas precisavam continuar sendo atendidas. Essas pessoas precisavam de muita informação e nós criamos canais. Essas pessoas precisavam não perder sua condição de usuário de planos de saúde, e criamos mecanismos de retenção — explicou o presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre.
Teleconsulta
— A teleconsulta já existe no mundo há muito tempo. No Brasil, ela começou forçada pela pandemia. Criamos a telemedicina como uma alternativa. Ela não vem para substituir a consulta presencial. Mas ela foi, sim, uma coisa extremamente importante para fazer com que as pessoas conseguissem buscar atendimento médico sem sair de casa, sem aquela ideia de que estariam se expondo a problemas maiores — destacou Vieira.
Perdas nos hospitais privados
— Os hospitais privados, de um modo geral, tiveram perdas substanciais nessa epidemia por vários motivos. Bem no início, vocês sabem que nossa dependência em relação a todo o aparato de proteção que as pessoas usam vem da China, nós tivemos um problema muito sério de desabastecimento nessa área, porque a China direcionou para outros países todos os EPIs (equipamentos de proteção individual), todo aquele material que a gente usa para se proteger, para ter contato com o paciente. Isso passou a ser um impacto importante na economia e nós tivemos de providenciar de outras fontes. Em um segundo momento, teve a questão dos remédios, dos anestésicos, que começou a escassear e isso envolveu um problema de estoque. Hoje, nós tivemos uma reunião agora pela manhã, tive uma informação do setor de compras de que, nesse período, deste ano, esse é um dado da Fipe, teve um aumento de 19,83% nos (preços dos) medicamentos de uma maneira geral, mostrando que esse nosso mercado continua predador — afirmou o superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento.
Enfrentando a dependência de insumos da China
— Essa crise oportunizou que vários setores da indústria se mobilizassem. Temos pequenas e médias indústrias que a gente tem feito muito contato, especialmente no momento onde houve a crise dos respiradores. A gente estava muito preocupado que não tivesse material suficiente, a gente viu uma mobilização da indústria local do Rio Grande do Sul no sentido de passar a desenvolver tecnologias que envolvam o atendimento e a elaboração de projetos mais sofisticados nessa área de alta tecnologia. Inclusive, nós no hospital estamos com um grupo trabalhando, oferecendo um selo de qualidade para testagem dessas novas tecnologias, onde a gente pode, em parceria com a indústria, alavancar a própria indústria do Estado do Rio Grande do Sul — explanou Nasi.
— Concordo plenamente com o que o Nasi falou. O único receio que tem é na questão de insumos para a produção ou de alguns medicamentos ou mesmo até de alguns aparelhos tecnológicos, que ainda são importados e que nós teremos dificuldades em um curto prazo — ponderou o presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre.
— É que nós chegamos a um absurdo de que não tínhamos máscaras no Brasil. Não teve saída mais elementar do que fazer uma máscara em casa. Depois, a própria população se deu conta e começou a produzir máscara. Chegou um momento em que o absurdo era tal que não se tinha álcool gel. A produção local estava subestimada. Os pequenos e médios empresários, tinha muita gente falindo nessa área. Acho que a gente ganha muito e a própria indústria, não só a grande, mas a pequena e média, deve crescer com essa crise com relação aos insumos básicos — completou Nasi.
Equilíbrio na retenção nos planos de saúde
— Nós temos uma equipe muito criativa que trabalhou intensamente em cima de duas vertentes principais. A primeira é junto com as empresas para que conseguissem manter seu vínculo com a Unimed através de renegociações, postergações, entendendo caso a caso qual seria a solução para o problema. Para as pessoas que ficam desempregadas, tentamos criar algum mecanismo onde essas pessoas adquirissem outros planos dentro da Unimed que não fossem tão onerosos ou que nós criássemos algum ingresso para as pessoas com desconto temporário mais prolongado para adquirir o plano de saúde. O que mais dói é saber que, no momento em que as pessoas mais precisam, elas não conseguem continuar conosco. Claro que com isso a gente teve uma diminuição importante nos ganhos da Unimed, mas esse é o preço social que todos nós temos de dar nesse momento de dificuldade que todo mundo está enfrentando. Daqui para frente não tem mais espaço para o individual — salientou Vieira.
Saindo da crise
— Eu vejo que a saída da crise é com mais trabalho. Está todo mundo muito cansado, mas é fundamental que a gente mantenha o nosso padrão de alto atendimento. É possível que essa epidemia, no Brasil, seja uma das mais longas do mundo, se prevê mais de seis meses de epidemia. Então, nós vamos ter que estar constantemente trabalhando muito e trabalhando bem. O resultado final disso tudo eu tenho certeza que vai ser um crescimento muito grande para todos nós, para a indústria, para a saúde e para a educação — projetou o superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento.
Aprendizados deixados pela crise
— A gente aprendeu muito ao longo do tratamento desses pacientes. Uma série de técnicas que antes a gente não usava. Vou dar um exemplo. A gente viu uma medida muito simples, que é, quando o paciente começa a baixar a oxigenação, virar ele de bruços, de barriga para baixo, na cama. Isso pode melhorar muito a oxigenação e até, eventualmente, retardar uma entubação. Vimos também crescer outra metodologia que é usar um oxigênio por cateter de alto fluxo, que a gente chama. A gente consegue atingir concentrações de 80%, 90% e até 100%. Os pacientes ficam conversando, falando, recebendo praticamente um ar puro. Nós aprendemos muito na epidemia a tratar essa doença, que tem uma característica de imprevisibilidade, de agressividade, que nós médicos ainda não entendemos bem — disse Nasi.
— Tudo isso que ele (Nasi) está falando aconteceu no mundo em questão de sete, oito, noves meses. Então, tratar com algo novo, agressivo, com altíssimo poder de disseminação, tudo isso em tão pouco tempo é algo surpreendente. Que a gente já tenha conseguido chegar aqui desta forma e ainda tendo consciência que nós sabemos muito pouco sobre essa doença, o que é também preocupante. Não temos nada que seja um tratamento efetivo — destacou o presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre.
Importância do acompanhamento médico durante a pandemia
— Entendam, por favor, que ficar em casa, é quando a gente pode ficar em casa. Quando a gente precisa sair, a gente sai com todas as precauções possíveis, mas, por favor, não desleixem com a sua saúde, procurem assistência médica, façam novos diagnósticos, façam acompanhamento necessário. Todos os hospitais estão absolutamente preparados, os consultórios médicos, para separar as pessoas — pontuou o presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre.