Em meio à crise provocada pela pandemia do coronavírus, a Petrobras captou US$ 3,25 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões ao câmbio atual) com a emissão de bônus no mercado internacional. Foi a primeira captação de uma empresa brasileira após o início da pandemia.
Para analistas, o apetite dos investidores em meio à crise reflete a busca por oportunidades de investimento em um mundo com taxas de juros baixas. A demanda pelos papéis teria superado em cinco vezes o valor final da operação.
A captação foi feita em duas parcelas diferentes. A primeira, de US$ 1,5 bilhão (R$ 8 bilhões) tem vencimento em 2031 e juros de 5,6% ao ano. A segunda, de US$ 1,75 bilhões (R$ 9 bilhões) vence em 2050 e tem taxa de juros de 6,9% ao ano.
A Petrobras informou em comunicado aos investidores que vai usar os recursos para "fins corporativos gerais". Em seminário virtual promovido pela agência EPBR nesta quinta-feira (28), o diretor de Relações Institucionais da estatal, Roberto Ardenghy, disse que a operação mostra que o mercado aprova a estratégia da empresa durante a crise.
— Imune a esse fenômeno ninguém é, mas empresas são mais ou menos resilientes dependendo da maneira em que se comportam — disse o executivo. — No caso da Petrobras, estamos mostrando resiliência — afirmou.
A empresa tem repetido que está pronta para sobreviver com o petróleo a US$ 25 (R$ 134) por barril.
Após o início da pandemia, a estatal anunciou uma série de medidas para reforçar o seu caixa, como cortes de investimentos e salários, suspensão do pagamento de dividendos e bônus a executivos e novo programa de demissão incentivada. A empresa lançou mão também de uma linha de crédito compromissado no valor de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões na época da operação) para reforçar a liquidez em um cenário de menores preços e vendas de petróleo e derivados.
Apesar da queda no consumo interno no fim de março, a Petrobras não sentiu fortes efeitos da pandemia em seu resultado operacional no primeiro trimestre, já que conseguiu deslocar parte de sua produção para o mercado internacional. Ainda assim, fechou o período com prejuízo de R$ 48,5 bilhões, o maior de sua história, provocado pela revisão do valor contábil de seus ativos à luz de novas projeções para o preço do petróleo. Com as cotações mais baixas no futuro, a companhia avalia que seus ativos valem R$ 65,3 bilhões a menos.