A restrição de público nas ruas em razão do coronavírus tem levado pequenas empresas a usarem da criatividade para sobreviver. Comerciantes de bairro, lanchonetes e prestadores de serviços passaram a apostar em alternativas como antecipação de pagamento, telentrega e campanhas em rede social para manter o fluxo de caixa e conseguir ao menos pagar funcionários e aluguel.
— Tudo está mudando muito rápido, de segunda-feira até agora o movimento caiu 70% _ contabiliza Paulo Antonio dos Santos Olsen, proprietário dos salões de beleza Gente Bonita, com duas unidades na zona sul da Capital — Estamos com medidas de precaução para receber os clientes, com espaçamento grande entre eles e higienização dos equipamentos, mas nem isso tem adiantado.
Preocupado com as contas, a GB, como é conhecida pelos consumidores, lançou uma campanha de vouchers pelas suas redes sociais. Clientes que pagarem antecipadamente um serviço receberão 20% de desconto para utilizá-los a qualquer momento nos próximos meses. O movimento foi lançado nesta quarta-feira, e já teve suas primeiras encomendas.
— Nossa preocupação é ter um fluxo mínimo de caixa para pagar os colaboradores — diz Olsen, que emprega 14 pessoas entre funcionários próprios e prestadores autônomos.
As redes sociais são aliadas de Leandro Mello, gerente da CauCakes, que há sete anos vende cupcakes em Novo Hamburgo. Nesta semana, ele resolveu recolher as mesas e encerrar o consumo local para evitar aglomeração. Passou a atender apenas pedidos via aplicativo ou retirada no balcão. É uma tentativa de evitar a paralisação completa do negócio.
— Vamos ver como o mercado vai reagir, estou muito preocupado. Se não tiver muitas encomendas, vou ter que negociar férias coletivas com a equipe e torcer para que as coisas se normalizem em abril — afirma Mello, que já abriu negociações com o sindicato dos empregados para avaliar alternativas.
Para autônomos a situação também complicou. Professora de pilates, Suelen Piassarollo tentou manter os atendimentos nos últimos dias, mas percebeu que os alunos desapareceram. Desde segunda-feira, 60% desmarcaram ou não compareceram às aulas. Suelen conta com o serviço de uma professora autônoma, a quem já garantiu pelo menos o salário de abril, e uma massoterapeuta parceira, que deixou de atender.
— Tenho tentado negociar com os alunos para manterem o pagamento das mensalidades e recuperarmos depois as aulas. Se pelo menos uma parte contribuir, consigo pagar o aluguel e manter a minha colaboradora — afirma.
Como contrapartida à boa vontade dos clientes, ela tem gravado vídeos e enviado dicas pelo WhatsApp para ajudá-los a se manterem em atividade nesses tempos de isolamento.
— É um momento em que os empresários precisam se reinventar — incentiva André Vanoni de Godoy, diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS) — O mais importante é não perder o cliente de vista, e saber usar a tecnologia é fundamental nessa hora.