O isolamento social causado pela pandemia de coronavírus mudou hábitos de consumo de internet no país. Profissionais que passaram a trabalhar em casa usam agora a conexão particular para promover reuniões que antes eram presenciais. Ao mesmo tempo, com a paralisação de escolas e universidades, jovens têm de acompanhar videoaulas e, nos momentos de lazer, podem aderir a serviços de streaming. O resultado disso é o aumento na demanda por dados.
O Brasil Internet Exchange (IX.br), projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), já detectou a elevação. No dia 18, o tráfego bateu recorde e atingiu 10 Tb/s (terabits por segundo). Cinco dias depois, na última segunda-feira (23), houve nova alta, e o pico chegou a 11 Tb/s.
O IX.br faz medições de tráfego desde 2004, em 33 pontos distribuídos pelo país. Gerente de infraestrutura do projeto, Julio Sirota ressalta que o uso já vinha em elevação nos últimos meses. O isolamento provocado pelo coronavírus deu fôlego adicional, completa Sirota.
— Estamos registrando pico no tráfego. Desde o início da quarentena, houve aumento gradual. A marca de 11 Tb/s é a maior historicamente, mas representa um crescimento normal, já vinha ocorrendo. Em dezembro, o tráfego era de 8 Tb/s — pondera o gerente.
A publicitária Bhrenda Ribeiro Bandinelli, 24 anos, faz parte do grupo que registrou mudança na forma de utilizar a internet. Desde a semana passada, a moradora de São Leopoldo, no Vale do Sinos, trabalha em casa e usa a conexão particular para atender a clientes e conversar com colegas. Ela é funcionária de uma agência de marketing instalada em Novo Hamburgo.
Segundo a publicitária, a rede particular comporta todas as necessidades de trabalho. No entanto, à noite, quando ela procura serviços de streaming ou jogos online, a internet costuma perder velocidade:
— A conexão fica mais lenta nesse período, deve ser porque tem mais pessoas usando ao mesmo tempo. No trabalho, ainda não senti tanta diferença.
GaúchaZH questionou operadoras de telefonia sobre o aumento na demanda por internet nos últimos dias, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O SindiTelebrasil, entidade que representa as empresas, avalia que o coronavírus provoca "cenário imprevisível", no qual é preciso "concentrar esforços" para manter a estabilidade da conexão. Conforme o sindicato, não houve, até o momento, "registros de problemas".
"Os centros de gerência de rede das empresas estão permanentemente monitorando o uso para garantir a conectividade e acesso a serviços digitais. Esse monitoramento permite, se necessário, implementar rotinas de contingenciamento e redirecionamento de tráfego para mitigar eventuais situações de congestionamento", diz a entidade.
Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), 32,6 milhões de pessoas utilizam internet residencial no país. O Rio Grande do Sul reúne 2,2 milhões de usuários. Em nota, a agência informa que trabalha com grupo de gestão para avaliar riscos relacionados ao uso em meio à pandemia de coronavírus.
"As redes de telecomunicações são projetadas para suportar aumentos de tráfego, e todas as prestadoras têm planos de contingência. Até o momento, apesar do aumento abrupto de demanda e da mudança de perfil no consumo, o monitoramento da operação aponta normalidade", comenta a Anatel.
A agência também declara que firmou "compromisso público" com as companhias "para manter o Brasil conectado".