O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu reagir à ofensiva de representantes do setor de serviços que questionam a reforma tributária da Casa.
— Em vez de a gente estar em uma grande mesa de debate com a sociedade, parte dos empresários está fazendo campanha contra. Não foi assim que eles trabalharam na Previdência, mas a Previdência eles não pagam a conta — afirmou.
Maia disse que é preciso que todos os brasileiros arquem com os custos das reformas de reorganização do Estado. Segundo o presidente da Câmara, não haverá aumento de cargas tributárias, mas redução de privilégios.
— Os brasileiros mais simples já deram a sua pequena contribuição na (reforma) previdenciária. A gente já está tratando da tributária há muito tempo, o que não se pode aceitar são informações distorcidas — disse.
Além das declarações, Maia compartilhou vídeo na internet dizendo que "alguns donos do poder decidiram financiar a indústria das fake news para confundir a sociedade".
O vídeo compartilhado por Maia defende a proposta de emenda à Constituição (PEC) 45, de autoria deputado Baleia Rossi (MDB-SP). O texto foi feito com base em estudo do economista Bernard Appy e unifica cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) em um único Imposto sobre Bens e Serviços.
Maia argumenta que a proposta da Câmara trará mais justiça ao reduzir os impostos sobre consumo e aumentar aqueles sobre serviços. Como os mais pobres consomem mais bens que serviços, diz o narrador do vídeo, o sistema tributário ganharia mais progressividade. Ou seja, os mais ricos pagariam mais.
Um dos principais grupos que contestam a PEC é o Brasil 200. O instituto tem no conselho empresários como Flavio Rocha, das lojas Riachuelo, e Luciano Hang, da varejista Havan. O grupo publicou há cerca de uma semana na internet, por exemplo, uma entrevista em vídeo com Edgard Corona, fundador das redes de academia Bio Ritmo e SmartFit, criticando a proposta da Câmara.
— Estou vendo uma série de empresários preocupados com o formato. O nosso setor especificamente vai ser dizimado. As margens já são muito pequenas, de 10% a 12%, e vamos ter um aumento de imposto de 14%, 16%. Nosso setor deixa de existir ou vai todo para a informalidade — afirma o grupo de empresários.
Nesta segunda-feira (17), lideranças de entidades coordenadas pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) participaram de um ato contra o aumento de impostos, o desemprego e as duas PECs de reforma tributária no Congresso, a 45 e a 110.
— Chegamos à conclusão de que a população, os empresários e a sociedade não estão sendo ouvidos — diz o presidente da ACSP, Alfredo Cotait, em nota.
Segundo ele, a entidade quer falar aos políticos para que as opiniões dos empresários sejam consideradas.
Outro grupo que resolveu se posicionar contra a proposta é o Movimento Brasil Livre (MBL), que defendeu o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). O grupo se juntou a empresários e entidades do setor de serviços para fazer campanha contra a proposta de reforma tributária em discussão no Congresso.
Nos estudos de sua proposta própria de reforma tributária, o Ministério da Economia já havia absorvido parte das preocupações e estudava um tratamento diferente para alguns setores, como educação e transportes.
O Executivo, entretanto, ainda não enviou suas sugestões, à espera da instalação da comissão mista da Câmara e do Senado.
Maia afirmou que o debate sobre a criação do imposto unificado, o IVA (Imposto de Valor Agregado), deve avançar quando o texto do governo para a reforma tributária chegar ao Congresso.
"O governo está participando, mas, quando ele encaminhar sua reforma nos próximos dias, de IVA nacional, vai nos ajudar a juntar as duas peças e fazer a aprovação de um IVA único, que é o que nós defendemos", afirmou.