Publicada nesta segunda-feira (2), a promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que voltará a fixar tarifas sobre produtos de aço e alumínio do Brasil e da Argentina deve servir de alerta para o governo Jair Bolsonaro, apontam analistas. Desde que chegou ao Palácio do Planalto, Bolsonaro buscou aproximação de Trump e procurou estabelecer acordos com os americanos em áreas diversas.
Essa intenção foi reforçada em março. Na ocasião, Bolsonaro viajou a Washington para encontrar o republicano. Com a escolha, rompeu a tradição de realizar dentro da América Latina a primeira visita internacional de um novo presidente brasileiro.
— Ainda é cedo para avaliar os eventuais impactos do anúncio de Trump para as relações entre Brasil e Estados Unidos. Hoje, os países não têm grandes contenciosos na área comercial. No passado, já tivemos vários litígios com os americanos, por produtos como algodão e suco de laranja. Tomara que o anúncio de Trump sirva de lição para o governo brasileiro. Países não têm amigos. Países têm interesses — define o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Ao mencionar que pretende restabelecer tarifas sobre importações de aço e alumínio, o presidente americano acusou o Brasil e a Argentina de desvalorizarem "fortemente" suas moedas. A afirmação de Trump é rebatida por analistas do mercado financeiro.
De janeiro a outubro, as exportações brasileiras de produtos semimanufaturados de ferro ou aço para os Estados Unidos caíram 16,3%, para US$ 2,3 bilhões, indica o Ministério da Economia. No período, as mercadorias responderam por 9,3% de todos os embarques verde-amarelos para os americanos.
— O anúncio de Trump traz volatilidade ao mercado financeiro e é uma sinalização ruim para acordos com o Brasil. Temos de ver como a situação vai se desenrolar, mas acende uma luzinha amarela, porque somos o lado mais fraco da corda — observa a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Especialistas interpretam a ameaça do presidente americano como reflexo de pelo menos duas questões. Uma é a possível estratégia eleitoral de Trump, com aceno protecionista à indústria local. A outra tem relação com a guerra comercial travada com os chineses. Bolsonaro esteve no mês passado com o líder chinês, Xi Jinping, em Brasília, para reunião do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na ocasião, o presidente brasileiro afirmou que a potência asiática "cada vez mais faz parte do futuro do Brasil".
Para o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito, a ação de Trump é "tão desproporcional" que sugere "retaliação" em pontos como a disputa pelo 5G. Os Estados Unidos estariam pressionando o Brasil contra a entrada da empresa chinesa Huawei no mercado dessa tecnologia.
Ainda em novembro, Bolsonaro se reuniu com o presidente-executivo da companhia no Brasil, Wei Yao, e disse que a gigante havia mostrado interesse no país. O leilão de 5G deve ser realizado no segundo semestre de 2020.