Líderes dos caminhoneiros criticaram a proposta apresentada pela indústria ao governo de transformar a tabela que define o piso mínimo para o frete em uma referência, sem obrigatoriedade de uso. Parte do grupo também aponta irritação em relação às negociações travadas entre a categoria, as empresas e o governo para reformulação do sistema.
Marcelo da Paz, caminhoneiro do Porto de Santos e que está em Brasília para participar das reuniões, diz que a proposta não foi bem recebida e defende que a categoria deixe as negociações.
Uma ameaça de paralisação no mês passado levou o governo a suspender a atualização dos valores praticados com base na tabela, definidos a partir de estudos da Esalq-Log, da Universidade de São Paulo.
Caminhoneiros apontam que a nova tabela — agora suspensa — contemplava apenas os custos do frete, sem levar em conta uma margem de ganhos para os trabalhadores. Nas reuniões, governo e categoria discutiam ajustes para tratar de remuneração.
Marcelo da Paz defende que a categoria se mobilize até o dia 4 de setembro, quando a constitucionalidade da tabela será julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
— Se der que a tabela é inconstitucional, o país para outra vez — afirmou.
A ação tem entre seus autores as confederações da indústria e da agricultura.
Marconi França, líder de caminhoneiros de Recife, também afirma ter deixado as negociações e que a categoria deverá se concentrar no julgamento do Supremo.
— Não vamos dar mais crédito para esse governo, que só faz empurrar com a barriga — disse.
França foi um dos caminhoneiros que receberam contato direto do ministro Tarcísio de Freitas para confirmar a suspensão da atualização da tabela em julho. Entre as demandas de França está a implantação obrigatória do Código Identificador da Operação de Transporte (Ciot), sistema eletrônico para controle do frete. Segundo os caminhoneiros, o mecanismo garantiria o cumprimento da tabela.
Além disso, França avalia que um julgamento da tabela como inconstitucional pelo Supremo seria uma irresponsabilidade do tribunal.
— Vamos invadir Brasília no dia 4 de setembro, mostrar que não vamos desistir de nossa lei, única garantia que caminhoneiros conseguiram com muita luta — defendeu.
Nelson Junior, o Carioca, também critica a proposta de tornar a tabela referencial e afirma ainda aguardar definição de data para reunião com o governo. Ele diz que o encontro deveria ocorrer até esta quarta, mas não houve confirmação da agenda. O líder caminhoneiro diz que, caso a reunião não saia até sexta-feira (9), irá deixar a capital federal.
— Nós estamos tentando não fazer paralisação, levar as coisas no diálogo, mas está ficando difícil — explicou.
Questionado, o ministério da Infraestrutura afirma que uma nova reunião com os caminhoneiros está mantida e ocorrerá até quinta-feira (8).
Wanderlei Alves, o Dedéco — um dos líderes da paralisação de 2018 —, diz que a proposta da indústria não será aceita, mas defende a manutenção do diálogo com o governo.
— Não vamos aceitar, claro, mas está na mesa de negociação enquanto o governo estiver de portas abertas — disse.