SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de o dólar avançar 4% na semana e fechar acima de R$ 4,10 pela primeira vez desde 19 de setembro do ano passado, o Banco Central anunciou nesta sexta-feira (17) uma intervenção no mercado de câmbio.
A fim de tentar estancar a alta da moeda, o BC programou três dos chamados leilões de linha (venda de moeda com compromisso de recompra), no valor total de US$ 3,75 bilhões, para segunda (20), terça (21) e quarta-feira (22).
A medida injeta dinheiro no mercado à vista, para atender a uma eventual demanda que tenha feito o valor da moeda subir rapidamente.
Como há o compromisso de recompra, o instrumento não reduz as reservas de dólares que o Brasil tem, hoje na faixa de US$ 380 bilhões.
A moeda americana fechou esta sexta-feira cota- da a R$ 4,1020, em valorização de 1,58%.
A alta de 4% do dólar na semana foi a mais alta desde a de 20 de agosto, quando a moeda americana subiu 4,8%. Entre as divisas emergentes, o real foi a que mais se desvalorizou no período.
Em setembro do ano passado, última vez em que o dólar foi negociado nesse patamar, a tônica era a preocupação com o desenrolar da corrida eleitoral. A euforia com o governo Jair Bolsonaro (PSL) e a possibilidade de adoção de uma política econômica liberal animava investidores, e a cotação caiu.
Após cinco meses de governo, porém, investidores começam a demonstrar impaciência com o governo, porque consideram que ele está pouco comprometido com a agenda econômica capaz de tirar o país da crise fiscal.
A proposta de reforma da Previdência, considerada crucial para o reequilíbrio das contas públicas, está na comissão especial da Câmara. Nesta sexta, porém, o presidente do grupo, Marcelo Ramos (PR-AM), afirmou que a Câmara estuda um projeto próprio de reforma, que substituiria o apresentado pelo governo. A intenção dos deputados é evitar que erros políticos do Planalto contaminem a pauta econômica do país.
Nesta sexta, a Bolsa brasileira teve leve recuo de 0,04%, mas perdeu o patamar dos 90 mil pontos -fechou aos 89.992 pontos, pior patamar do ano. Na semana, o índice acumulou queda de 4,5%.
As cotações do dólar e da Bolsa, no entanto, não sofreram influência da notícia da possibilidade de projeto alternativo da reforma da Previdência, veiculada após o fechamento do mercado.
"É uma ameaça pública da Câmara para ver até onde o governo aguenta. Caso a mudança na proposta a ser votada se concretize, é o fim da articulação política do governo. Isso é péssimo porque o governo não vai conseguir aprovar mais nada até o seu fim", afirma Victor Cândido, da Guide Investimentos.
Em evento do setor de construção civil, no Rio de Janeiro, nesta sexta, o ministro da Economia minimizou a oscilação dos indicadores na semana.
Se a Bolsa cai ou o dólar sobe um pouco, isso é barulho. Ninguém tem de ficar preocupado", disse Paulo Guedes.
No exterior, o dia também foi de perdas após negativas da China quanto a um acordo com os Estados Unidos para por fim à guerra comercial. As Bolsas chinesas recuaram mais de 2%.
Nos EUA, o índice Dow Jones recuou 0,38%, o S&P 500, 0,45%, e a Nasdaq, 1,04%.
Para Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, a alta do dólar no Brasil não deve se manter. "O patamar de R$ 4,10 já é de altíssimo risco para quem aposta na alta do dólar. Se o governo der um passo firme em direção a reforma da Previdência, a cotação da moeda americana desmorona", afirma.